Memória Descritiva
«A infografia significa a apresentação visual de dados, sejam dados estatísticos, sejam mapas ou diagramas. Trata-se das três formas que adopta a infografia no jornal impresso.
Se a infografia é a linguagem que resume dados em desenhos, qualquer ilustração é uma infografia?
Não, nem todas as ilustrações são infografias. Para que a ilustração se considere infografia tem que explicar algo, contar uma história, transmitir informação como uma notícia.» (Alberto Cairo)
No âmbito da proposta número 3 da unidade curricular de Design e Comunicação Visual - a infografia jornalística -, apresento, de seguida a memória descritiva que lhe é correspondente.
É certo que esta proposta mostrou-se a mais trabalhosa e um tanto ou quanto mais complexa a nível gráfico e/ou visual. A sua composição, a meu ver, deverá ser bem estruturada - à semelhança de como referido pelo professor Alberto Cairo -: deve prostar a informação como se de uma notícia se tratasse e, ao mesmo tempo, ser auxiliada por gráficos, cores, pictogramas, etc. Isto, claro, sem transformar um conteúdo importante (a própria infografia) numa ilustração complementada por um texto ou por umas percentagens [▼ 37 ▲]
«Segundo o mesmo autor [Cairo], é possível assim identificar uma linha de
continuidade entre a infografia, como um derivado da ilustração, a sua
consolidação como uma secção de “arte” com o USA Today (e a sua
consideração como “atraente” do que apenas como informação
“simplificada”) (…)» [NEVES, Cátia Sofia Pereira]
Assim, se, por um lado, é bastaste fácil exercer uma composição ilustrativa com os dados obtidos, por outro os dados poderão condicionar o criador da infografia nos elementos a utilizar. Refiro-me, por exemplo a informação que não poderá ser transportada ou transferida para elementos gráficos e/ou ilustrativos tão facilmente; conceitos abstratos e informação linear que unicamente poderá ser tratada em texto e não em composições desta categoria. Isto, claro, no meu ponto de vista.
Posto isto, tentei compreender melhor o que seria a infografia, as suas possibilidades, capacidades e oportunidades. A sua definição, porquanto, também me ajudou bastante a reter o essencial. Tendo em atenção que «a palavra «infografia» é um neologismo que deriva do termo norte-americano «infographics», resultado da contracção de «information» e «graphics». Trata-se de uma disciplina que apresenta uma informação através de esquemas visuais simplificados, e não se aplica apenas ao jornalismo, sendo este apenas um dos campos (Colle, 2004).» [RANIERI, Paulo Rodrigo].
Por outro lado, a minha pesquisa autónoma, concentrada sobretudo em vídeos [▼ 38 ▲], entrevistas recolhidas do JPN [▼ 34 ▲] [▼ 35 ▲], e recolha de material infográfico [▼ 36 ▲], revelaram ser de extrema importância para uma melhor compreensão e apreensão do conceito e da forma organizacional que teria de colocar em prática. E assim aconteceu.
Em primeira mão, após uma pesquisa intensiva de várias infografias, de várias técnicas e de vários materias que poderia utilizar na construção de uma composição deste gabarito, acabei por aceitar uma das propostas do Jornalismo Porto Net (JPN) e embarcar na aventura dos «Alfarrabistas Portuenses». Contudo, e após algumas semanas de deliberação e avaliação das variáveis tempo/produção, decidi abandonar o tema, explicitando num post anterior o porquê [▼ 40 ▲].
«Fazer uma reportagem infográfica é muito mais complexo do que escrever uma notícia. Posso escrever uma notícia em cinco minutos, mas uma infografia não. À medida que se enfrentam estas situações, adquirem-se mais conhecimentos tecnológicos e velocidade. Por outro lado, desenvolvemos técnicas de trabalho em equipa.» (Alberto Cairo)
«Cheguei à conclusão de que esta [infografia com o tema «Alfarrabistas do Porto»] seria difícil de realizar. Não pela técnica que poderia vir a ser exigida; não pela dificuldade em realizar algo dentro deste tema; mas sim pela falta de dados fidedignos existentes sobre o tema. A realidade é que sabemos onde se encontram as livrarias, sabemos em que ano abriram... Mas será isso suficiente para explorar o tema através de uma infografia? No meu ponto de vista teriam de existir dados concretos por parte de alguma entidade especialista. Contudo, a verdade é que nem o Instituto Nacional de Estatística (INE) nem a Associação Portuguesa de Editores e Livreiros (APEL) dispõem de bases de dados relativamente a este assunto. A única fonte existente é, portanto, os próprios profissionais do ramo. Contudo, é de salientar que estes, não colocando a sua credibilidade em causa, poderão, inconscientemente, fornecer dados errados que posteriormente poderão induzir em erro o público.»
«Jordi Clapers apresenta outras características para a realização de uma boa infografia, que são:
- autonomia - não depender do artigo e não apresentar redundância e repetição de informações;
- veracidade - não destoar da mensagem a transmitir, não inventar dados para preencher
- clareza - ajudar o leitor a entender o conteúdo da notícia. Dever ser de fácil leitura, e deve dar uma visão global.» [NEVES, Cátia Sofia Pereira]
- autonomia - não depender do artigo e não apresentar redundância e repetição de informações;
- veracidade - não destoar da mensagem a transmitir, não inventar dados para preencher
- clareza - ajudar o leitor a entender o conteúdo da notícia. Dever ser de fácil leitura, e deve dar uma visão global.» [NEVES, Cátia Sofia Pereira]
Destarte, e ganhando consciência da escassez de elementos por explorar através da infografia, decidi mudar o rumo do meu projeto três e dedicar-me a outro tema. Numa das aulas de Técnicas de Expressão Jornalística (Imprensa), surgiu uma notícia do Jornal Público que tinha como tema os direitos gays e transsexuais em Portugal, onde se poderiam observar vários dados referentes a esta temática. Desde modo, vendo algum potencial nesta notícia, decidi arriscar e partir à criação da mesma.»
Deste modo, prossegui à sua estruturação, elaboração e à sua conclusão. É de salientar que decidi não criar uma infografia recheada de informação; e tal deve-se a um factor que, a meu ver, faz todo o sentido. De uma forma bastante simplista e genérica - talvez excessivamente simplista e genérica -, uma infografia deverá ser uma composição que apresente a informação através de esquemas visuais de forma simplificada. Deste modo, podemos utilizar gráficos de barras, pictogramas, ilustrações, gráficos circulares.... Mas seu utilizarmos todos os tipos de componentes (ou se utilizarmos um ou dois repetidamente), a infografia não se tornará confusa?; não irá contra a sua própria definição?
É certo que uma infografia terá de conter a informação essencial. Contudo, considero que uma infografia que disponha de várias partes/explicações (mesmo que bem estruturadas a nível infográfico) faz com que o público perca algum interesse na leitura da mesma: quanto mais extensa, quantos mais elementos infográficos forem colocados, menor hipótese existirá (no meu ponto de vista) de os indivíduos atentarem na infografia.
Assim esquematizado, decidi organizar a minha infografia em três partes apenas: uma com um gráfico circular relativamente ao debate da população sobre o assunto; a segunda parte referente aos países que mais garantem os direitos gays na Europa, auxiliado por um gráfico de barras vertical; e, por fim, ilustrações demonstrativas dos direitos LGBT em Portugal.
Após a apresentação da primeira versão da infografia para a turma e respetivo docente, procedi à reformulação (sobretudo) da segunda parte da infografia. Assim, a composição final é a que se apresenta:
Em primeiro lugar, debrucei-me sobre o fundo da minha infografia. As escolhas foram múltiplas, desde cores sólidas a padrões, sombreados a degradês, transparências sobre cores contrastantes... Isto visto que tinha acabado por excluir qualquer utilização de um mapa ou de algum enquadramento especial por considerar não ser o mais adequado. Deste modo, e após algum trabalho de investigação, acabei por eleger a bandeira LGBT como fundo. Esta, criada pelo artista plástico Gilbert Baker, em 1977, é composta por faixas horizontais de seis cores diferentes (roxo, azul, verde, amarelo, laranja e vermelho), semelhantes às do arco-íris. Estas cores, simbolicamente, representarão, então, a diversidade humana, sendo-lhes concebidos alguns significados adjacentes: o roxo significa o espírito, o desejo de vontade e a força; o azul significa as artes e o amor pelo artístico; o verde simboliza a natureza e o amor pela mesma; o amarelo simboliza o sol, a luz e a claridade da vida; o laranja simboliza a cura e o poder; o vermelho, por fim, significa o fogo, a vivacidade. (www.lgbt.pt)
Assim, dispus a bandeira não na sua forma original mas como ela própria é utilizada em «marchas de orgulho gay», na vertical. Óbvio será dizer que a cada faixa de cor teve de ser retirada opacidade de forma a que as cores não se tornassem excessivamente fortes e contrastantes aos olhos do público. O importante, independentemente de tudo, seria o conteúdo a colocar na infografia e não o seu background. Deste modo, fixei de início que se tal experiência não corresse bem (sendo que aconteceu o inverso), teria de repensar no fundo. Posteriormente, adicionei ainda duas finas linhas brancas em cada extremidade lateral da bandeira de forma a equilibrar um pouco a composição e de lhe conferir alguma seriedade.
«Um infográfico é uma unidade espacial na qual se utiliza uma combinação
de códigos icónicos e verbais para entregar uma informação ampla e
precisa, para o qual um discurso verbal resultaria mais complexo e
demandaria mais espaço (Colle, 2004)» [RANIERI, Paulo Rodrigo]
A mesma estratégia das cores e da simbologia LGBT foi utilizada para criar o gráfico circular. A ideia inicial foi mesmo exercer um paralelo entre um arco-íris a bandeira gay utilizada. Desta forma, é-nos apresentado uma espécie de donut, ao qual é conferido a função de gráfico. Nesta questão em especial, tive de ter em atenção o contraste existente este elemento e o fundo, sendo que não existiram grandes problemas porque tanto um como o outro acabam por não interferir. Ainda assim, e como referia, a parte «arco-íris» (chamemos-lhe assim), corresponde à percentagem de pessoas que "concorda" com o assunto; sendo que a fatia a negro diz respeito àqueles que têm opinião dissonante. Esta cor, por seu torno, foi escolhida por ser negativa e por representar a junção de todas as outras cores (com uma palete tão variada de cores no lado contrário, teria de ter escolhido a cor mais chamativa e mais contrastante com as restantes, sendo, por isso, selecionado o preto).
Na segunda etapa, atentei na criação de um gráfico que transmitisse a informação de quais os países europeus que garantem mais direitos LGBT. Para a sua criação, criei, em primeira mão, personagens ilustrativas de casais e/ou indivíduos pertencentes à comunidade LGBT. Neste aspeto, tentei variar ao máximo os tipos de tonalidade de pele, os tipos de cabelo e até tentei atribuir "funções" que (por estereótipos) são vinculadas ou ao sexo masculino ou ao sexo feminino [únicos géneros estipulados na legislação portuguesa]. Neste aspeto, ressalto a mulher que, na terceira parte da infografia, representa um dos direitos garantidos em Portugal à comunidade LGBT: o direito de servirem nas Forças Armadas; mas lá chegaremos. Deste modo, tentei transmitir a ideia de diversidade, de multiculturalidade e de indiscrimincação no que toca a orientação sexual e/ou à entidade de género de qualquer pessoa pertencente a qualquer parte do mundo. Também por isso achei pertinente retirar partes do corpo como sinais, olhos, boca, nariz, etc, o que poderia levar à criação de estereótipos por parte do público e sendo que, assim, apostava mais veemente na ideia de indiscriminação anteriormente referida.
Ainda assim, no gráfico de barras, tentei, mais uma vez, realizar um paralelismo: as barras verticais com um suposto pódio de cinco posições. O laranja, neste aspeto, pareceu-me ser a cor mais acertada a utilizar porque é uma cor que se destaca e que não tem conotação agressiva, muito pelo contrário, possui um status quo. Assim coloquei dois indivíduos de mão dada naquele que corresponde ao primeiro lugar do pódio, ocupado por Malta. Os restantes lugares, achei pertinente deixar desocupado por poder criar bastante ruído visual e bastante confusão. Assim, optei unicamente por colocar os nomes dos restantes países europeus, que se seguiram a Malta na garantia de direitos LGBT.
Ainda assim, na última parte, e como ja anteriormente referido, apostei mais na ilustração ou no trabalho gráfico do que, propriamente, a nível de elementos infográficos. Assim, decidi proceder à representação ilustrativa dos seis direitos LGBT garantidos em Portugal, nomeadamente o reconhecimento de relacionamentos entre pessoas do mesmo sexo, o casamento, a «proibição da discriminação» em função da sexualidade no local de trabalho, a possibilidade de homossexuais poderem vir a servir nas forças armadas, a adoção por pessoas do mesmo sexo e, por fim, a legalização da mudança de sexo. Estas representações, por seu turno, estão, individualmente, sobre uma forma circular branca (com alto nível de transparência) de forma a que as ilustrações se destaquem e não se "percam" entre as cores de fundo. O círculo foi a forma escolhida por ser a mais equilibrada e a mais harmoniosa.
Por último, relativamente aos tipos de letra utilizado, fez-se uso da fonte Calibri Light nos corpos de texto e legendas. Esta foi o tipo de letra eleito por dispor de um bom espaçamento entre as letras e por não ser serifada (o que, no meu ponto de vista, dificultaria a leitura, visto que este tipo de letra iria ser empregue em corpos de texto ainda extensos e com algumas linhas).
O título principal, por seu turno, é serifado e é uma fonte (Road Movie) baixada da internet. A escolha do tipo de letra a utilizar para título foi a mais demorada: as de traço mais fino pareceram-me que passariam mais desapercebidas; as mais condensadas e com um traço mais grosso (bolds, blacks, etc), pareceram-me ser bastante agressivas e rudes... Assim, e à beira do desespero - às vezes é necessário admiti-lo -, passei a analisar fonte a fonte. A escolhida, admito, nunca seria uma opção que tomasse em primeira-mãos (por, talvez, me fazer lembrar de rodeos e de cowboys). Contudo, quando a escolhi, vi que se adequava na perfeição à composição, pois transmite uma ideia de sobriedade e de importância à inforgrafia e, ao mesmo tempo, transmite a ideia de que é um assunto básico, um assunto que poderia ser falado com uma criança - um assunto apelativo, sobretudo. A associação a rodeos dissipou-se, então.
Por outro lado, o estilo dos títulos teve de ser bold de forma a destacar-se. Visto que os títulos seriam de tamanho menor ao título principal, a utilização de fontes com traço mais largo não causava impacto negativo na leitura da infografia. O caráter não-formal da fonte MVT, um tipo de letra também ele baixado através da internet (que acaba por ser um híbrido entre a formalidade do Arial Black e a "descomplexidade" do Cooper Black), acabou por resultar bastante bem com toda a infografia.
Referências:
[1] CAIRO, Alberto, in JPN 1 / JPN 2
[2] NEVES, Cátia Sofia Pereira, Infografia em Meio Digital, Tomar, 2013
[3] RANIERI, Paulo Rodrigo, A Infografia Digital Animada como Recurso para a Transmissão da Informação em Sites e Notícias, Minho, 2008