17 de junho de 2016

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Memória Descritiva

«A infografia significa a apresentação visual de dados, sejam dados estatísticos, sejam mapas ou diagramas. Trata-se das três formas que adopta a infografia no jornal impresso.
Se a infografia é a linguagem que resume dados em desenhos, qualquer ilustração é uma infografia?
Não, nem todas as ilustrações são infografias. Para que a ilustração se considere infografia tem que explicar algo, contar uma história, transmitir informação como uma notícia.
» (Alberto Cairo)

No âmbito da proposta número 3 da unidade curricular de Design e Comunicação Visual - a infografia jornalística -, apresento, de seguida a memória descritiva que lhe é correspondente. 

É certo que esta proposta mostrou-se  a mais trabalhosa e um tanto ou quanto mais complexa a nível gráfico e/ou visual. A sua composição, a meu ver, deverá ser bem estruturada - à semelhança de como referido pelo professor Alberto Cairo -: deve prostar a informação como se de uma notícia se tratasse e, ao mesmo tempo, ser auxiliada por gráficos, cores, pictogramas, etc. Isto, claro, sem transformar um conteúdo importante (a própria infografia) numa ilustração complementada por um texto ou por umas percentagens [▼ 37 ▲]

«Segundo o mesmo autor [Cairo], é possível assim identificar uma linha de continuidade entre a infografia, como um derivado da ilustração, a sua consolidação como uma secção de “arte” com o USA Today (e a sua consideração como “atraente” do que apenas como informação “simplificada”) (…)» [NEVES, Cátia Sofia Pereira]

Assim, se, por um lado, é bastaste fácil exercer uma composição ilustrativa com os dados obtidos, por outro os dados poderão condicionar o criador da infografia nos elementos a utilizar. Refiro-me, por exemplo a informação que não poderá ser transportada ou transferida para elementos gráficos e/ou ilustrativos tão facilmente; conceitos abstratos e informação linear que unicamente poderá ser tratada em texto e não em composições desta categoria. Isto, claro, no meu ponto de vista.

Posto isto, tentei compreender melhor o que seria a infografia, as suas possibilidades, capacidades e oportunidades.  A sua definição, porquanto, também me ajudou bastante a reter o essencial. Tendo em atenção que «a palavra «infografia» é um neologismo que deriva do termo norte-americano «infographics», resultado da contracção de «information» e «graphics». Trata-se de uma disciplina que apresenta uma informação através de esquemas visuais simplificados, e não se aplica apenas ao jornalismo, sendo este apenas um dos campos (Colle, 2004).» [RANIERI, Paulo Rodrigo].

Por outro lado, a minha pesquisa autónoma, concentrada sobretudo em vídeos [▼ 38 ▲], entrevistas recolhidas do JPN [▼ 34 ▲] [▼ 35 ▲], e recolha de material infográfico [▼ 36 ▲], revelaram ser de extrema importância para uma melhor compreensão e apreensão do conceito e da forma organizacional que teria de colocar em prática. E assim aconteceu.

Em primeira mão, após uma pesquisa intensiva de várias infografias, de várias técnicas e de vários materias que poderia utilizar na construção de uma composição deste gabarito, acabei por aceitar uma das propostas do Jornalismo Porto Net (JPN) e embarcar na aventura dos «Alfarrabistas Portuenses». Contudo, e após algumas semanas de deliberação e avaliação das variáveis tempo/produção, decidi abandonar o tema, explicitando num post anterior o porquê [▼ 40 ▲].

«Fazer uma reportagem infográfica é muito mais complexo do que escrever uma notícia. Posso escrever uma notícia em cinco minutos, mas uma infografia não. À medida que se enfrentam estas situações, adquirem-se mais conhecimentos tecnológicos e velocidade. Por outro lado, desenvolvemos técnicas de trabalho em equipa.» (Alberto Cairo)

«Cheguei à conclusão de que esta [infografia com o tema «Alfarrabistas do Porto»] seria difícil de realizar. Não pela técnica que poderia vir a ser exigida; não pela dificuldade em realizar algo dentro deste tema; mas sim pela falta de dados fidedignos existentes sobre o tema. A realidade é que sabemos onde se encontram as livrarias, sabemos em que ano abriram... Mas será isso suficiente para explorar o tema através de uma infografia? No meu ponto de vista teriam de existir dados concretos por parte de alguma entidade especialista. Contudo, a verdade é que nem o Instituto Nacional de Estatística (INE) nem a Associação Portuguesa de Editores e Livreiros (APEL) dispõem de bases de dados relativamente a este assunto. A única fonte existente é, portanto, os próprios profissionais do ramo. Contudo, é de salientar que estes, não colocando a sua credibilidade em causa, poderão, inconscientemente, fornecer dados errados que posteriormente poderão induzir em erro o público.»
 «Jordi Clapers apresenta outras características para a realização de uma boa infografia, que são:
- autonomia - não depender do artigo e não apresentar redundância e repetição de informações;
- veracidade - não destoar da mensagem a transmitir, não inventar dados para preencher
- clareza - ajudar o leitor a entender o conteúdo da notícia. Dever ser de fácil leitura, e deve dar uma visão global.» [NEVES, Cátia Sofia Pereira]

Destarte, e ganhando consciência da escassez de elementos por explorar através da infografia, decidi mudar o rumo do meu projeto três e dedicar-me a outro tema. Numa das aulas de Técnicas de Expressão Jornalística (Imprensa), surgiu uma notícia do Jornal Público que tinha como tema os direitos gays e transsexuais em Portugal, onde se poderiam observar vários dados referentes a esta temática. Desde modo, vendo algum potencial nesta notícia, decidi arriscar e partir à criação da mesma.»

Deste modo, prossegui à sua estruturação, elaboração e à sua conclusão. É de salientar que decidi não criar uma infografia recheada de informação; e tal deve-se a um factor que, a meu ver, faz todo o sentido. De uma forma bastante simplista e genérica - talvez excessivamente simplista e genérica -, uma infografia deverá ser  uma composição que apresente a informação através de esquemas visuais de forma simplificada. Deste modo, podemos utilizar gráficos de barras, pictogramas, ilustrações, gráficos circulares.... Mas seu utilizarmos todos os tipos de componentes (ou se utilizarmos um ou dois repetidamente), a infografia não se tornará confusa?; não irá contra a sua própria definição?

É certo que uma infografia terá de conter a informação essencial. Contudo, considero que uma infografia que disponha de várias partes/explicações (mesmo que bem estruturadas a nível infográfico) faz com que o público perca algum interesse na leitura da mesma: quanto mais extensa, quantos mais elementos infográficos forem colocados, menor hipótese existirá (no meu ponto de vista) de os indivíduos atentarem na infografia.

Assim esquematizado, decidi organizar a minha infografia em três partes apenas: uma com um gráfico circular relativamente ao debate da população sobre o assunto; a segunda parte referente aos países que mais garantem os direitos gays na Europa, auxiliado por um gráfico de barras vertical; e, por fim, ilustrações demonstrativas dos direitos LGBT em Portugal.

Após a apresentação da primeira versão da infografia para a turma e respetivo docente, procedi à reformulação (sobretudo) da segunda parte da infografia. Assim, a composição final é a que se apresenta:



Em primeiro lugar, debrucei-me sobre o fundo da minha infografia. As escolhas foram múltiplas, desde cores sólidas a padrões, sombreados a degradês, transparências sobre cores contrastantes... Isto visto que tinha acabado por excluir qualquer utilização de um mapa ou de algum enquadramento especial por considerar não ser o mais adequado. Deste modo, e após algum trabalho de investigação, acabei por eleger a bandeira LGBT como fundo. Esta, criada pelo artista plástico Gilbert Baker, em 1977, é composta por faixas horizontais de seis cores diferentes (roxo, azul, verde, amarelo, laranja e vermelho), semelhantes às do arco-íris. Estas cores, simbolicamente, representarão, então, a diversidade humana, sendo-lhes concebidos alguns significados adjacentes: o roxo significa o espírito, o desejo de vontade e a força; o azul significa as artes e o amor pelo artístico; o verde simboliza a natureza e o amor pela mesma; o amarelo simboliza o sol, a luz e a claridade da vida; o laranja simboliza a cura e o poder; o vermelho, por fim, significa o fogo, a vivacidade. (www.lgbt.pt)

 Assim, dispus a bandeira não na sua forma original mas como ela própria é utilizada em «marchas de orgulho gay», na vertical. Óbvio será dizer que a cada faixa de cor teve de ser retirada opacidade de forma a que as cores não se tornassem excessivamente fortes e contrastantes aos olhos do público. O importante, independentemente de tudo, seria o conteúdo a  colocar na infografia e não o seu background. Deste modo, fixei de início que se tal experiência não corresse bem (sendo que aconteceu o inverso), teria de repensar no fundo. Posteriormente, adicionei ainda duas finas linhas brancas em cada extremidade lateral da bandeira de forma a equilibrar um pouco a composição e de lhe conferir alguma seriedade. 

«Um infográfico é uma unidade espacial na qual se utiliza uma combinação de códigos icónicos e verbais para entregar uma informação ampla e precisa, para o qual um discurso verbal resultaria mais complexo e demandaria mais espaço (Colle, 2004)» [RANIERI, Paulo Rodrigo]

A mesma estratégia das cores e da simbologia LGBT foi utilizada para criar o gráfico circular. A ideia inicial foi mesmo exercer um paralelo entre um arco-íris a bandeira gay utilizada. Desta forma, é-nos apresentado uma espécie de donut, ao qual é conferido a função de gráfico. Nesta questão em especial, tive de ter em atenção o contraste existente este elemento e o fundo, sendo que não existiram grandes problemas porque tanto um como o outro acabam por não interferir. Ainda assim, e como referia, a parte «arco-íris» (chamemos-lhe assim), corresponde à percentagem de pessoas que "concorda" com o assunto; sendo que a fatia a negro diz respeito àqueles que têm opinião dissonante. Esta cor, por seu torno, foi escolhida por ser negativa e por representar a junção de todas as outras cores (com uma palete tão variada de cores no lado contrário, teria de ter escolhido a cor mais chamativa e  mais contrastante com as restantes, sendo, por isso, selecionado o preto).

Na segunda etapa, atentei na criação de um gráfico que transmitisse a informação de quais os países europeus que garantem mais direitos LGBT. Para a sua criação, criei, em primeira mão, personagens ilustrativas de casais e/ou indivíduos pertencentes à comunidade LGBT. Neste aspeto, tentei variar ao máximo os tipos de tonalidade de pele, os tipos de cabelo e até tentei atribuir "funções" que (por estereótipos) são vinculadas ou ao sexo masculino ou ao sexo feminino [únicos géneros estipulados na legislação portuguesa]. Neste aspeto, ressalto a mulher que, na terceira parte da infografia, representa um dos direitos garantidos em Portugal à comunidade LGBT: o direito de servirem nas Forças Armadas; mas lá chegaremos. Deste modo, tentei transmitir a ideia de diversidade, de multiculturalidade e de indiscrimincação no que toca a orientação sexual e/ou à entidade de género de qualquer pessoa pertencente a qualquer parte do mundo. Também por isso achei pertinente retirar partes do corpo como sinais, olhos, boca, nariz, etc, o que poderia levar à criação de estereótipos por parte do público e sendo que, assim, apostava mais veemente na ideia de indiscriminação anteriormente referida.

Ainda assim, no gráfico de barras, tentei, mais uma vez, realizar um paralelismo: as barras verticais com um suposto pódio de cinco posições. O laranja, neste aspeto, pareceu-me ser a cor mais acertada a utilizar porque é uma cor que se destaca e que não tem conotação agressiva, muito pelo contrário, possui um status quo. Assim coloquei dois indivíduos de mão dada naquele que corresponde ao primeiro lugar do pódio, ocupado por Malta. Os restantes lugares, achei pertinente deixar desocupado por poder criar bastante ruído visual e bastante confusão. Assim, optei unicamente por colocar os nomes dos restantes países europeus, que se seguiram a Malta na garantia de direitos LGBT. 

Ainda assim, na última parte, e como ja anteriormente referido, apostei mais na ilustração ou no trabalho gráfico do que, propriamente, a nível de elementos infográficos. Assim, decidi proceder à representação ilustrativa dos seis direitos LGBT garantidos em Portugal, nomeadamente o reconhecimento de relacionamentos entre pessoas do mesmo sexo, o casamento, a «proibição da discriminação» em função da sexualidade no local de trabalho, a possibilidade de homossexuais poderem vir a servir nas forças armadas, a adoção por pessoas do mesmo sexo e, por fim, a legalização da mudança de sexo. Estas representações, por seu turno, estão, individualmente, sobre uma forma circular branca (com alto nível de transparência) de forma a que as ilustrações se destaquem e não se "percam" entre as cores de fundo. O círculo foi a forma escolhida por ser a mais equilibrada e a mais harmoniosa. 

Por último, relativamente aos tipos de letra utilizado, fez-se uso da fonte Calibri Light nos corpos de texto e legendas. Esta foi o tipo de letra eleito por dispor de um bom espaçamento entre as letras e por não ser serifada (o que, no meu ponto de vista, dificultaria a leitura, visto que este tipo de letra iria ser empregue em corpos de texto ainda extensos e com algumas linhas). 

O título principal, por seu turno, é serifado e é uma fonte (Road Movie) baixada da internet. A escolha do tipo de letra a utilizar para título foi a mais demorada: as de traço mais fino pareceram-me que passariam mais desapercebidas; as mais condensadas e com um traço mais grosso (bolds, blacks, etc), pareceram-me ser bastante agressivas e rudes... Assim, e à beira do desespero - às vezes é necessário admiti-lo -, passei a analisar fonte a fonte. A escolhida, admito, nunca seria uma opção que tomasse em primeira-mãos (por, talvez, me fazer lembrar de rodeos e de cowboys). Contudo, quando a escolhi, vi que se adequava na perfeição à composição, pois transmite uma ideia de sobriedade e de importância à inforgrafia e, ao mesmo tempo, transmite a ideia de que é um assunto básico, um assunto que poderia ser falado com uma criança - um assunto apelativo, sobretudo. A associação a rodeos dissipou-se, então. 

Por outro lado, o estilo dos títulos teve de ser bold de forma a destacar-se. Visto que os títulos seriam de tamanho menor ao título principal, a utilização de fontes com traço mais largo não causava impacto negativo na leitura da infografia. O caráter não-formal da fonte MVT, um tipo de letra também ele baixado através da internet (que acaba por ser um híbrido entre a formalidade do Arial Black e a "descomplexidade" do Cooper Black), acabou por resultar bastante bem com toda a infografia.


Referências: 

[1] CAIRO, Alberto, in JPN 1 / JPN 2

[2] NEVES, Cátia Sofia Pereira, Infografia em Meio Digital, Tomar, 2013

[3] RANIERI, Paulo Rodrigo, A Infografia Digital Animada como Recurso para a Transmissão da Informação em Sites e Notícias, Minho, 2008 

27 de maio de 2016

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Mudança de Rumo: Escolha do Tema Para a Infografia

Após algumas tentativas da criação de uma infografia baseada no tema «Alfarrabistas no Porto», proposto pelo Jornalismo Porto Net, cheguei à conclusão de que esta seria difícil de realizar. Não pela técnica que poderia vir a ser exigida; não pela dificuldade em realizar algo dentro deste tema; mas sim pela falta de dados fidedignos existentes sobre o tema. A realidade, é que sabemos onde se encontram as livrarias, sabemos em que ano abriram... Mas será isso suficiente para explorar o tema através de uma infografia? No meu ponto de vista teriam de existir dados concretos por parte de alguma entidade especialista. Contudo, a verdade é que nem o Instituto Nacional de Estatística (INE) nem a Associação Portuguesa de Editores e Livreiros (APEL) dispõem de bases de dados relativamente a este assunto. A única fonte existente é, portanto, os próprios profissionais do ramo. Contudo, é de salientar que estes, não colocando a sua credibilidade em causa, poderão, inconscientemente, fornecer dados errados que posteriormente poderão induzir em erro o público.

Destarte, e ganhando consciência da escassez de elementos por explorar através da infografia, decidi mudar o rumo do meu projeto três e dedicar-me a outro tema. Numa das aulas de Técnicas de Expressão Jornalística (Imprensa), surgiu uma notícia do Jornal Público que tinha como tema os direitos gays e transsexuais em Portugal onde se poderiam observar vários dados referentes a esta temática. Desde modo, vendo algum potencial nesta notícia, decidi arriscar e partir à criação da mesma. A notícia em questão é, então, transcrita de seguida:

«Portugal entre os que mais asseguram direitos de gays e transexuais

Malta lidera o ranking feito pela ILGA-Europa. Portugal passa a estar entre os cinco primeiros. Anualmente, esta organização analisa os avanços e retrocessos legislativos, políticos e sociais em 49 países. E dá classificações.


Portugal subiu no ranking do respeito pelos direitos de lésbicas, gays, bissexuais, transexuais e intersexuais. A avaliação anual da ILGA-Europa a 49 Estados europeus foi divulgada nesta terça-feira. O país melhora a sua classificação em relação à edição do ano passado, apesar de haver ainda uma fatia importante da população (34%) que considera que há algo de “errado” numa relação sexual entre duas pessoas do mesmo sexo.

Todos os anos, esta organização não-governamental analisa os avanços e retrocessos legislativos, políticos e sociais, em matéria de igualdade, do ano anterior. O relatório de 2016 — chama-se Rainbow Europe e é conhecido como o Mapa Arco-íris — conta o que de mais relevante se passou em 2015 e nos primeiros meses deste ano.

E em Portugal, diz-se, aconteceram coisas como estas: depois de muitas tentativas falhadas, "casais de pessoas do mesmo sexo passaram a ter acesso à adopção conjunta”. Mais: “progressos registaram-se noutras áreas ligadas ao direito da família, nomeadamente com uma proposta” que visa alargar a possibilidade de acesso a técnicas de procriação medicamente assistida a todas as mulheres (desde Dezembro que um grupo de trabalho discute o assunto). Por fim, o Código do Trabalho “proibiu a discriminação” em função da identidade de género.

A cada país, a ILGA-Europa atribui uma classificação, de zero a 100%. E Portugal consegue uma nota de 70%, empatado com Espanha e abaixo, apenas, da Dinamarca (71%), Bélgica (82%), Reino Unido (81%) e Malta (88%).

Estando entre os cinco primeiros, está melhor do que na edição de 2015, quando era 10.º no ranking da ILGA-Europa. E repete o desempenho da edição de 2014.

Sobre o que se passou no resto da Europa, vários factos são recordados: 2015 foi o ano em que Malta aprovou aquela que é considerada a lei da identidade de género mais avançada do mundo; foi o ano em que a Irlanda se tornou o 12.º país da Europa a garantir, após um referendo, a igualdade no casamento (em Portugal, o casamento entre pessoas do mesmo sexo é possível desde 2010). E foi, também, o ano em que Xavier Bettel, primeiro-ministro do Luxemburgo, se casou, meses depois de uma lei idêntica ter sido publicada.

Já na Eslovénia, o Parlamento aprovou uma lei que garantia a igualdade de casamento — uma lei que, contudo, a população chumbou, em referendo, meses depois. E “os apelos aos decisores políticos alemães para que avancem para a igualdade de casamento e para a adopção da directiva europeia anti-discriminação não foram ouvidos”.

De resto, 2015 foi ainda o ano em que foram notícia, de novo, actos de violência homofóbica e transfóbica em vários países, como a Grécia, a Geórgia, a Turquia, a Rússia (onde vários casos de activistas atacados são reportados pela ILGA-Europa).

Malta considerada exemplo

 Segundo esta associação, Malta (que no ano passado estava em 3.º lugar) é agora o país que mais garante o cumprimento dos direitos humanos de lésbicas, gays, bissexuais, transexuais e intersexuais (ou seja, pessoas que nascem com características masculinas e femininas, como os hermafroditas) e o que mais assegura que todas as pessoas são tratadas de forma igual.

Entre outras novidades, a lei passou a permitir em Malta o reconhecimento legal da identidade das pessoas transexuais através de um procedimento administrativo célere, que depende tão só da vontade das mesmas, proibindo explicitamente qualquer pedido de informação sobre questões médicas (em Portugal é exigido um diagnóstico de disforia de género a quem quer mudar de sexo nos seus documentos).

Este país proibiu também qualquer procedimento cirúrgico desnecessário em pessoas intersexo sem o seu consentimento. E, em Fevereiro, foi anunciado que os cartões de identidade passarão a ter uma categoria “x”, para além do “feminino” ou “masculino”.

No outro extremo do ranking da ILGA-Europa estão a Arménia (com uma classificação de 7%), a Rússia (7%, também) e o Azerbaijão (5%).

A ILGA-Europa lembra que os exemplos de progressos, como o irlandês ou o de Malta, não devem abafar as realidades mais violentas.

O que pensam as pessoas?

O Mapa Arco-íris lembra ainda que em Outubro foi divulgado o relatório do Eurobarómetro sobre discriminação, que mostra que mais pessoas do que nunca acreditam que o casamento entre pessoas do mesmo sexo deve ser permitido em todos os países da Europa (61%, a mesma percentagem registada em Portugal).

Outros dados: pouco mais de um terço dos portugueses continuam a achar que há alguma coisa “de errado” numa relação sexual entre pessoas do mesmo sexo — a média da União Europeia é 58% e em Malta, o n.º 1 do ranking, a taxa de respostas idênticas é 24%.

Mais: 69% dos inquiridos em Portugal acreditam que a discriminação com base na orientação sexual está disseminada no país. A média da União Europeia é 58% e em Malta 55%.

Quando se pede aos inquiridos que digam, numa escala de zero a dez, quão confortáveis se sentiriam tendo um colega de trabalho homossexual, bissexual ou transexual, 59% dos portugueses dizem que se sentiriam confortáveis (ou seja, deram uma nota ao seu "grau de conforto" de entre sete e dez) ou moderadamente confortáveis (uma nota de cinco ou seis). A média da União Europeia é 72%. Em Malta, 81%.

Evelyne Paradis, directora executiva da ILGA-Europa, deixa uma mensagem, em comunicado. Diz que o cenário europeu é feito de sinais contraditórios. Que a igualdade não é, de todo, “um assunto resolvido” e que, na verdade, “muitos governos que estavam a liderar os avanços há uns anos abrandaram" o ritmo.

Dois vídeos que são alertas

A poucos dias de se assinalar o Dia Internacional Contra a Homofobia (17 de Maio) começam a surgir iniciativas relacionadas com a prevenção da discriminação. Uma foi desenvolvida por Lorenzo e Pedro, o casal que ganhou um prémio Arco-íris 2015, da ILGA Portugal, depois de se ter tornado um fenómeno do Youtube com um vídeo que os mostrava a passearam-se pelas ruas de Lisboa, de mãos dadas, e as reacções das pessoas que esse passeio suscitava. Agora, o novo vídeo que acaba de ser divulgado mostra “histórias reais de portugueses” gays e transexuais. Que contam como sentem a discriminação, como vivem a sua relação com a família, e à pergunta sobre o que os torna diferentes, dizem “nada”. Está aqui: https://www.youtube.com/watch?v=Ak5BGKvjcoo.

Na semana passada foi a Amplos (Associação de Mães e Pais pela Liberdade de Orientação Sexual e Identidade de Género), a lançar a campanha Isto é o que parece. Isto é amor. Tem como protagonistas Susana e Marta, mãe e filha, e foi criada pela agência Winicio sob a direcção criativa de João Peral. É uma outra forma de “sensibilizar os cidadãos para o combate às formas de relacionadas com a descriminação à orientação sexual e identidade de género” e está aqui: https://www.youtube.com/watch?v=LD73-nte9jU»

16 de maio de 2016

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Livros - Uma Recolha Infográfica
 
Após a escolha do tema «Os Alfarrabistas no Porto», proposto pelo JPN, achei necessário proceder a uma pesquisa na Web sobre infografias que tratassem deste assunto. A pesquisa foi exercida em português e em inglês em plataformas como o Google, o Pinterest e o Tumblr. Contudo, nenhum resultado foi encontrado quando era pesquisado «Alfarrabistas Infografia». Assim, procedi à pesquisa de temas relacionados - sobretudo relacionados com livros, o que não foge muito do tema escolhido por mim. 

Assim, com a amostra recolhida, cheguei à conclusão que o método mais utilizados na construção de infografias deste género são o gráfico de barras seguido dos pictogramas. Ambos poderão ser exímios na transmissão de valores (percentagens, por exemplo) ao público.

E talvez o pictograma seja o método mais eficaz neste tipo de composições, uma vez que cria uma aliança entre a informação e a ilustração - o que, no meu ponto de vista, é o que se prima neste tipo de composições.Gráficos circulares também são bastante utilizados. Contudo, e a meu ver, estes parecem não se enquadrar bem no tópico a nível visual - o que, estranhamente, não conseguirei explicar (talvez pelo formato contraditório do retângulo/livro com o círculo [?]).

Ainda gostaria de salientar outro ponto: as cores. Apesar de compreender o uso de tons divertidos, vivos e contrastantes - que visam transmitir a diversão da leitura, apelando visualmente à mesma -, a mim parece-me correto, para a minha proposta, utilizar tons castanhos, amarelos, laranjas, realçando a ideia de antiguidade.


[Clicar nas imagens de forma a aumentar a sua resolução]

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O que é uma Infografia, Para que Serve? (Vídeos)

Após uma pesquisa relativamente à importância das infografias no mundo do jornalismo e à sua diversidade enquanto composição, pareceu-me furtuito proceder a uma pesquisa animada (em formato de vídeo) relativamente ao mesmo tema. Surpreendentemente, os três casos que proponho poderão ser avaliados, segundo a minha perspectiva, como sendo infografias animadas e com bastante dinamismo [não em formato imagem, mas sim em formato video, o que transporta para este método um grande dinamismo e uma (melhor/maior) interatividade para com o público]. Deste modo, os seus autores propuseram-se a explicar no que consiste uma infografia, a sua importância e os melhores métodos para criarmos uma, através do seu próprio uso. Uma infografia a explicitar o que é uma infografia, portanto. 

Três vídeos, com estratégias visuais diferentes e com informação diferente, a ter em conta aquando da construção deste tipo de composições.
 




15 de maio de 2016

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Porque Motivo uma Boa Infografia é Muito Mais do que Imagens e Números?

Muitos dos erros cometidos na construção de infografias advém da ideia pré-concebida de que estas são unicamente criadas através da relação entre desenhos/imagens e números/informação. Contudo, apesar de este poder ser o princípio base para a construção de uma composção deste tipo, há que ter em consideração muitos outros pontos de extrema importância. 

Deste modo, o segredo encontra-se no nome. Infografia. Um gráfico (ou grafismos) que transmitem informações. Contudo, ainda que possamos ler/visualizar facilmente um conteúdo destes, há que ter em conta que todo um processo longo, demorado e difícil foi levado a cabo por parte dos seus criadores. 

Uma boa infografia transmite e impregna no seu público o mesmo tipo de conhecimento, de sentimentos que um artículo impresso transmite. Assim, colocar um determinado número/letra numa tipografia de elevada escala, juntamente a uma imagem, não torna toda a composição numa infografia - não numa boa infografia, pelo menos.


Posto isto, se se pretende realmente proceder à criação de uma boa infografia, deverá-se ter em atençãoa parte visual do jornalismo: como apresentar a informação de uma forma interessante e apelativa?, como apresentar a informação através de uma infografia como se de um artículo se tratasse? 

Deste modo, existem alguns princípios-base a ter em conta antes da criação de qualquer infografia; princípios esses que poderão, inclusive, auxiliar na construção da composição.

Um Ângulo Claro

Se for quase impossível resumir o projeto numa só frase, será melhor repensar no que se pretende. Por outro lado, se temos definidos os parâmetros a avaliar/abordar, a construção da infografia demonstrará ser mais fácil, uma vez que, se tal não acontecer, iremos colocar informação desnecessária e aleatória que apenas ocupará espaço e retirará clareza à informação. Deste modo, requer-se algum planeamento antecipado, aquando da projeção inicial da composição.

Uma vez vez planeado, seguir-se-á para a frente com o projeto.

Um excelente exemplo de uma infografia clara e sem grandes "adereços" apresenta-se no Gates Notes, o blog de Bill Gates. Esta composição, intitulada «World's Deadliest Animals», demonstra que os mosquitos matam muitas mais pessoas do que tubarões - informação que poderá ser claramente comprovada pela enorme mancha vermelha onde está enquadrado o inseto.


 Dados Fidedignos

De modo a informar corretamente o público, as boas infografias apresentam dados oficiais e fidedignos de uma forma sucinta e clara, de modo a que os factos não sejam distorcidos. Deste modo, nunca se deverão sacrificar a veracidade destes dados de modo a que exista um melhor enquadramento visual no que diz respeito a toda a composição.

Extensão

O público não pretende ler um artigo inteiro numa infografia, mas sim percepcionar de forma clara e descomplexada a informação que se pretende transmitir. Um excelente exemplo infográfico que zela por este princípio é o que apresento a seguir. Intitulado «The Science Behind the Most Popular Infographics», e produzido por Siege Media, esta composição oferece dados importantes acerca das 1000 infografias mais partilhadas nas redes sociais no último ano.



Sentido

Não "atirar", simplesmente, informação ao leitor; o objetivo é criar um caminho, uma linha de pensamento para este. Assim, é um imperativo conhecer o público-alvo para o qual estamos a criar a infografia. Conhecer a audiência, o ângulo,  e percorrer todas as etapas que for necessário percorrer para obter a composição mais adequada
 

14 de maio de 2016

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Recolha de Inspiração na Web

Para dar início à terceira proposta de trabalho da unidade curricular, achei que seria correto exercer uma pequena pesquisa de infografias via web. Deste modo pretendi fortalecer ideias, conceitos e noções que poderei aplicar no meu projeto individual, de forma a que este resulte e se de adeqúe inteiramente ao tema (que ainda está por decidir). 

Assim, tentei reunir um conjunto de infografias extremamente diversificadas que variam bastante na sua apresentação, na sua forma, no tema e na sua finalidade. É de salientar que maior parte destas composições foi retirada de plataformas como o Tumblr, o Google e/ou sites noticiosos.

     

  


     

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12 de maio de 2016

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A Infografia Aplicada ao Jornalismo - Parte II

No seguimento da última publicação [▼ 34 ▲], transcrevo a segunda entrevista a Alberto Cairo realizada pelo JPN:

«Infografia: Jornais portugueses têm pouca produção própria”


Alberto Cairo diz que jornais portugueses usam muitas infografias de agência, o que lhes retira prestígio. “Expresso” produz “muito boa infografia”.

O antigo director do departamento de infografia do jornal espanhol “El Mundo” analisou, a convite do JPN, alguns jornais portugueses que usam desenhos gráficos para ilustrar o 11 de Março, em Madrid. Alberto Cairo reconhece que a infografia é ainda considerada “um género menor” e que um jornal de referência deveria ter, no mínino, oito infografistas.

Um jornal nacional e de referência, quantas pessoas deve ter no departamento de infografia?

Depende muito das suas vendas. Em Espanha, o “El Pais”, que vende cerca de 400 mil exemplares por dia, tem oito infografistas impressos e dois “online”. O “El Mundo”, que vende cerca de 330 mil exemplares, tem oito ou nove pessoas no impresso e cinco no online. Mas há jornais mais pequenos, como “La Voz de La Galicia”, que tem seis pessoas na infografia impressa e nenhuma na “online”.

Então, um diário como o “Público”, que tem três infografistas, ou o “Diário de Notícias” (cinco), quantos profissionais deveria ter?

Eu diria que um periódico de referência e de qualidade de um país deve ter, no mínimo, sete pessoas no departamento infográfico impresso e uma no online (no mínimo). Mas têm de trabalhar em equipa.

O que pensa do trabalho dos jornais portugueses ao nível infográfico?

Conheço pouco da imprensa portuguesa, no que concerne à infografia. Conheço o trabalho do “Expresso”, que faz uma infografia muito boa em geral. O “Público” também tem alguns gráficos interessantes. O que reparei é que os jornais portugueses tendem a usar infografias de agência, não de produção própria. Usar gráficos de agência é como usar notícias de agência, retira prestígio.

Analisando o exemplo do 11 de Março, em que os diários recorreram muito a gráficos, como é que está a infografia?

O “Público” está bem organizado, usando exactamente o gráfico que publicou o “El Pais”. O “Jornal de Notícias” usa, também, um gráfico muito organizado, feito no próprio jornal. No “Correio da Manhã”, todas as bombas a explodir são prescindíveis. É dar espectáculo. É um gráfico muito confuso e não ajuda nada o excesso de cor. Nem se sabe por onde começar a ler.

No caso de um atentado, os infografistas têm de reagir com muita rapidez. Como é que se gere a urgência jornalística das “breaking news” com a produção de reportagens multimédia?

Este tipo de situações é sempre muito difícil, porque fazer uma reportagem infográfica é muito mais complexo do que escrever uma notícia. Posso escrever uma notícia em cinco minutos, mas uma infografia não. À medida que se enfrentam estas situações, adquirem-se mais conhecimentos tecnológicos e velocidade. Por outro lado, desenvolvemos técnicas de trabalho em equipa.

Quais são as principais diferenças entre a infografia impressa e a “online”?

Há muitas. A principal é que a infografia “online” é, obviamente, animada, interactiva e multimédia. Pode-se sequenciar a acção, o que é muito difícil de fazer num papel. E pode-se juntar interactividade e deixar que o leitor maneje os gráficos, mude a informação. Pode-se também incorporar áudio, vídeo, animações em 3D. Ao mesmo tempo, o espaço disponível em papel é limitado, na internet não. De uma forma que se tem uma capacidade ilimitada de proporcionar contexto.

Há muito mais vantagens no “online” do que no papel?

Sim. Mas, ao mesmo tempo, tem algumas desvantagens. Por exemplo, a qualidade da imagem não é a mesma que no meio impresso. Em papel, o espaço físico é maior do que na internet, mas na internet considera-se espaço-tempo e é ilimitado.

Num gráfico em papel controla-se o espaço e num gráfico online controla-se o tempo e o espaço?

Claro, isso é a sequenciação da acção. Em papel, apresenta-se logo toda a informação: título, diagrama, tabela, cronologia. Na internet, não se faz da mesma maneira, sequencia-se a acção. Dá-se a possibilidade ao leitor de aceder a cada peça de informação através de links.

O tempo é a quarta dimensão. E a interactividade?

Sim, a quarta dimensão é o tempo. Na internet, chamo à “quinta dimensão” a interactividade, a possibilidade de ter “links”, que levam a peças específicas. Mas a interactividade significa também a possibilidade de manipular a informação. Por exemplo, no caso de uma partida de futebol, o leitor pode manejar os jogadores.

Aplicando a interactividade ao jornalismo, o leitor ao transformar-se num co-autor, não acaba por perverter o poder autoral do jornalista?

Não. Tudo depende de como se apresenta a informação. Olhemos para o mapa do “New York Times” das eleições presidenciais de 2004, nos Estados Unidos. Primeiro, apresentam-se os resultados definitivos. Depois, dá-se a possibilidade ao leitor de mudar os estados para ver onde deveria ter ganho John Kerry para ganhar a eleição. Não se perverte em nada a informação.

O jornalista não perde poder?

Não, porque não se dá a liberdade absoluta ao leitor de fazer o que quer. Dá-se liberdade dentro de parâmetros específicos.

Qual é o estatuto da infografia? Vai estar sempre dependente do jornalismo, é uma linguagem menor?

Não. A infografia usa-se para muitos campos, não apenas no jornalismo. Qual vai ser o seu futuro? Não sei. É um género menor agora mesmo? Sim, porque muitos jornais consideram-na como algo secundário, o que é um erro. Mas creio que isso vai mudar com o tempo, assim que se compreenda o poder deste tipo de representações para apresentar a informação.»

in JPN

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A Infografia Aplicada ao Jornalismo - Parte I

Após uma pesquisa intensiva sobre o que era a infografia, eis que me deparo com dois artículos do JPN onde este assunto é tratado detalhadamente através de duas entrevistas com Alberto Cairo [Knight Chair at the University of Miami. Author of 'The Truthful Art']. Este, por seu turno, tenta demonstrar e explicitar onde se insere a infografia no mundo do jornalismo - o que, deste modo, faz elucidar um pouco o leitor relativamente à polivalência e às diferentes capacidades que um jornalista tem de deter. 

Posto isto, achei impreterível  não colocar na íntegra ambas as entrevistas que passarei a transcrever na íntegra em dois posts. 

«“Infografia não é uma linguagem do futuro, é do presente”


Alberto Cairo fala sobre “jornalismo infográfico”. No recrutamento de jornalistas pesa mais o conhecimento tecnológico do que o conhecimento teórico.

Alberto Cairo é especialista em design e artes visuais. Professor de jornalismo na Universidade da Carolina do Norte, nos Estados Unidos, e antigo director do departamento de infografia na edição “online” do “El Mundo”, considera a infografia como um “género jornalístico”, mais adequada do que o texto para transmitir “dados frios”.

O especialista, que na semana passada deu um “workshop” sobre o tema na Universidade do Porto, admite também que, na maior parte dos jornais, os infografistas não são reconhecidos como jornalistas.

Como é que define a infografia moderna?

A infografia significa a apresentação visual de dados, sejam dados estatísticos, sejam mapas ou diagramas. Trata-se das três formas que adopta a infografia no jornal impresso.
Se a infografia é a linguagem que resume dados em desenhos, qualquer ilustração é uma infografia?

Não, nem todas as ilustrações são infografias. Para que a ilustração se considere infografia tem que explicar algo, contar uma história, transmitir informação como uma notícia.

Podemos chamar à infografia noticiosa um género jornalístico?

Formalmente a infografia não está aceite como um género jornalístico, mas estou convencido de que o é. A infografia é a aplicação das regras do desenho gráfico para contar histórias. Assim, se se contam histórias jornalísticas pelo meio do desenho gráfico, isso é um género jornalístico, sem dúvida.

Podemos então dizer que infografia significa “jornalismo visual”?

Sim, é um dos ramos do jornalismo visual.

E existe o conceito de jornalismo infográfico?

Efectivamente, pode falar-se de jornalismo infográfico sempre que a infografia se utilize para contar histórias jornalísticas. É infografia jornalística.

O “jornalismo infográfico” vai ser a linguagem jornalística do futuro?

Sim e não. A infografia não é uma linguagem do futuro, é uma linguagem do presente. Tem vindo a ser utilizada desde que há jornais, praticamente. Será uma linguagem jornalística do futuro? Sim, e será muito utilizada, mas isso não quer dizer que não existam outras linguagens jornalísticas que não serão utilizados em igual medida.

E nunca substituirá o jornal impresso?

Não, da mesma forma que a televisão não substitui o rádio e a rádio não substitui a linguagem escrita. A infografia é apenas mais uma linguagem, outra forma de contar histórias. Nem todas as histórias podem contar-se de maneira infográfica, da mesma forma que nem todas as histórias se podem contar bem em texto.

Por exemplo?

Não se pode contar uma história com interesse humano através de uma infografia. No caso do acidente de metro que houve em Valência onde morreram 42 pessoas, a infografia não permite contar como as famílias das vítimas experimentaram a tragédia. Por outro lado, a infografia é muito melhor para explicar por que é que o comboio descarrilou, por que chocou, onde chocou, quanta gente morreu, quanta gente está viva. A infografia é muito melhor para transmitir os dados frios, os dados duros.

Os jornalistas estão preparados para fazer infografias?

Depende de onde provenham. Qualquer jornalista que saia de uma carreira de jornalismo, em princípio, estará capacitado para entender a infografia como uma linguagem jornalística. Isso não quer dizer que qualquer jornalista esteja capacitado para fazer infografia. Para a fazer são precisos conhecimentos técnicos, assim como para escrever, para fazer televisão, etc.

Qual deve ser a formação do jornalista na faculdade?

O jornalista deve receber um formação geral sobre todos os géneros jornalísticos que existem. Tem de aprender a analisar não só a notícia escrita, mas também a reportagem, a crónica, a entrevista, tem de aprender algo de fotojornalismo e tem de aprender também as bases da infografia. Tem também de haver um curso básico de aprendizagem de infografia.

Só depois viria a especialização?

Tem de haver, obviamente, especializações. Vai haver jornalistas que vão para o meio escrito, outros para a televisão. Dentro dos que vão para o meio escrito, pode haver um ramo mais relacionado com o desenho gráfico, onde se incluem cursos avançados sobre criação de infografia impressa, multimédia e “online”.

No recrutamento de jornalistas, hoje em dia, pesa mais ter bons conhecimentos sobre História, política e relações internacionais ou dominar ferramentas multimédia que permitam fazer, por exemplo, jornalismo infográfico?

Pesa mais o conhecimento tecnológico do que o conhecimento teórico. No caso de ter de contratar alguém para o meu departamento de infografia, vou contratar a pessoa que saiba manejar as ferramentas, mesmo que num nível muito básico, mas que seja também um bom jornalista. Não contrataria nunca alguém que não soubesse manejar ferramentas.

De forma realista, pensa que os jornalistas em geral têm uma literacia visual, isto é, conhecimentos visuais que lhes dêem sensibilidade para condensar informação num desenho gráfico?

Depende. Nem toda a gente está capacitada para fazer infografia. Mas há gente que está muito capacitada, mesmo que nunca tenham feito. Encontrei muitos jornalistas nos jornais onde trabalhei, que nunca tinham feito uma infografia na vida, mas eram capazes de desenhar algo e contar o que se passara quando viam um acidente.

Portanto, só uma pequena percentagem de jornalistas faz infografias?

Sim, uma pequena percentagem.

Qual o estatuto do infografista que trabalha num jornal? É considerado um jornalista ou um desenhador gráfico?

Depende dos países e dos jornais. Na maior parte dos jornais, é considerado um desenhador gráfico. Mas nos jornais mais avançados, naqueles que produzem a melhor infografia do mundo, os infografistas são jornalistas. É o caso do “New York Times”, do “El Mundo” e do “El Pais”.

O que transforma um desenhador gráfico num jornalista?

Aprender a contar histórias e aprender as regras pelas quais se rege qualquer repórter. Deve, também, aprender a escrever notícias, reportagens, crónicas, entrevistas, e saber consultar e confrontar fontes.»

in JPN
 

9 de maio de 2016

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Memória Descritiva [Reformulação]

A minha composição tipográfica baseou-se, então, no single dos Twenty One Pilots, Stressed Out. Cheguei, inclusive, a interpretá-la num post anterior [- 28 -], de modo a entender melhor os aspetos relacionados com ela, interpretando-a, posteriormente, da melhor forma que conseguisse através do uso da tipografia. Tentei ter em máxima atenção as cores que poderia utilizar, o tipo de letra mais adequado e as possíveis fontes a que poderia recorrer. Deste modo, cheguei à seguinte conclusão: 

Sentimentos transmitidos: insegurança, timidez, nostalgia da infância, "desvontade", pressão, ansiedade, duvida, baixa auto-estima,

Cores a utilizar: cores neutras (desde branco e cinza a preto) e vermelho.

Tipos de letra/fontes: Letra serifada e/ou letra em bold/black.

A música, o videoclip e todo o álbum da banda, tem, por si só, cores que se relacionam com os sentimentos retratados na música. Falo do branco, do vermelho e do preto predominam e transmitem de forma clara todos os elementos anteriormente referidos. Relembremos também que Tyler, o vocalista da banda, encarna uma personagem que utiliza estas mesmas cores na roupa que enverga.

No que diz respeito ao tipo de letra/fontes, achei que seria adequado o uso de letra serifada por ser mais vinculativa, mais agressiva quando utilizada. A serifa, inconscientemente, provoca um maior impacto, chama-nos mais à atenção por ter um caráter mais assertivo, direto e violento. Deste modo, o uso de letras em bold/black vão muito ao encontro desta ideia também - sendo que as letras mais grossas provocam um maior impacto na mensagem que se pretende transmitir (neste caso a mensagem e o próprio sentimento que a ela se vincula).

Deste modo, reformulação após reformulação, cheguei ao resultado seguinte:


É de salientar que para a composição tipográfica apresentada, e após dialogar com o docente, retirei inspiração de Neville Brody e do seu trabalho utilizado numa campanha da Nike. Uma composição bastante equilibrada, criativa e que, sobretudo, faz bom uso da tipografia enquanto elemento da comunicação. Um aspecto que mais se destacou, no meu ponto de vista pessoal, relaciona-se com a escala utilizada para transmitir várias ideias (movimento, dinâmica e ênfase da mensagem) [FONSECA, Suzana Valladares]. Um outro aspeto relaciona-se ainda com a linha de leitura da mensagem, que na composição se mostra bastante diversificada e dinâmica. Por outras palavras, Brody leva-nos a ler a mensagem como ela deverá ser lida, sem sabermos qual palavra que virá a seguir ou por onde deveríamos continuar a ler [LUPTON, Ellen].

Esta composição foi toda pensada em dar destaque unicamente à tipografia e à forma como organizaria a mesma. Assim, utilizei um fundo preto; o qual daria maior destaque ao que poderia escrever com branco, vermelho e cinzento. É de ressaltar que neste âmbito foram exercidos vários testes - uns em que a cor de fundo [vermelho] era demasiado forte e não dava destaque ao escrito e outros em que a cor [branco] dava uma sensação de vazio, de "desimportância" da mensagem.

Nas três primeiras palavras, tentei logo dar início à relação cor-sentimento-fonte. «My name is» [O meu nome é], é uma expressão que todos nós utilizamos quase desde que aprendemos a falar. Deste modo, achei por bem não dar grande destaque a esta passagem e optei por utilizar uma fonte simples, básica, que se associasse à ideia de expressão também ela recorrente, tantas vezes utilizada por nós [HEITLINGER, Paulo]. Assim, acabei por dar uso às variantes da fonte Arial, que foi a que me pareceu mais propositada ao pretendido. 

A palavra «my», por sua vez, tem uma tonalidade mais acizentada, quase que não destacada pelo fundo preto que utilizei. E tal alia-se à ideia de que o sujeito não se sente bem consigo próprio, não tem auto-estima e encontra-se perdido no mundo. Enquadrei esta palavra na seguinte por vários motivos lógicos: a) a palavra «my» não demonstra ser relevante para se entender que o sujeito se está a referir a ele próprio; b) o 'eu', com a pouca auto-estima que tem, acha-se pequeno, menos do que os outros e possivelmente não quererá dar nas vistas e quer-se incluir na multidão de forma a que ninguém repare em si; c) no single em si, a palavra em questão quase que não é percetível a quem ouve, de modo que esta não é necessariamente utilizada para se cantar/escrever a passagem da música.

A palavra «name», por sua vez, está impregnada com um branco vivo, uma vez que é uma palavra que tem continuidade lógica para o que vai ser dito de seguida. Para além disso, esta palavra é cantada com outra entoação, uma entoação mais vincada.

Ainda assim, se tal acontece deste modo com este termo, no caso do «is», este quase que não é percetível aos ouvidos do público. Deste modo, para além de possuir uma cor mais escura e uma fonte mais fina (sem serifa), dispus a palavra em espelho para realçar esta ideia. Para além disto, a utilização da ferramenta "espelho" remete-nos também para a consciencialização de si próprio enquanto pessoa - o que acontece ao longo de toda a música. A disposição deitada, por outro lado, leva-nos a construir uma linha de leitura e direciona o próprio público para a palavra a seguir a esta.

Após isto, coloquei a palavra «Blurryface» tal e qual como nos é apresentada na cover do álbum onde este single se integra: com o tipo de letra Futura e com um design muito próprio, no qual uma linha horizontal perfaz todos os traços de algumas letras. A vermelho, claro está, uma vez que este é um dos elementos principais da passagem escolhida (e se tal não pode ser feito através do uso de letra serifada ou em bold, utilizou-se a cor para dar ênfase a este ideia). Resumidamente, tentei dar algum protagonismo a esta palavra.

«And» [e] foi o termo a que dei menos importância. Assim, apenas utilizei uma fonte mais fina (sem serifa) e branco para a destacar do fundo. Mais uma vez, de forma a criar uma linha de leitura, prostrei esta palavra por de cima da serifa inferior do «I».

De seguida, tratei de uma das palavras com maior importância em toda a composição: «I» [eu]. Esta teria de ser vinculativa, teria de ter impacto perante o público. Deste modo, utilizei uma fonte serifada e grossa; aumentei o seu tamanho e tentei dar-lhe destaque, sendo que parece que todas as palvras convergem desta palavra. A mesma técnica foi utilizada para o «you» [tu], mas lá chegaremos. 

As expressões «care what» teriam de estar intrinsecamente ligadas ao «I». Destarte, coloquei-as do lado direito dessa mesma palavra e dei-lhes alguns destaque através da cor e da sua grossura. Neste caso não achei adequado utilizar letra serifada, uma vez que a inexistência desta seria compensada pelo uso de letras carregadas. Depois, tentei encontrar um equilíbrio [FONSECA, Suzana Valladares]. A palavra «care», intrinsecamente ligada à palavra «I», deveria estar associada a esta sem qualquer questão de dúvida. Deste modo, uma parece que dá origem à outra, interligando-se literalmente. A palavra «what», por seu turno, descreve uma semicurva na sua parte superior, dando ênfase e dinamismo à mensagem transmitida, de modo a que seja captada a atenção do público e de modo a que o leitor não perca a vontade de continuar a ler. Sobretudo, a esta técnica utilizada, tentei também associar a ideia de movimento, de contraste; tentei chamar à atenção para a importância da mensagem que o sujeito quer transmitir.

Quase em termos finais, e como já foi referido anteriormente, a palavra «you» teria, de igual forma às palavras «Blurryface» e «I», de ter uma carga mais vinculativa, assertiva e teria de criar impacto no público, Assim, para além da utilização de uma fonte serifada e grossa e do seu tamanho , utilizei mais uma vez o vermelho para dar destaque à palavra. Sublinhe-se que desde o início o pretendido foi destacar a existência de um «eu» e de um «tu», o que, na minha perspetiva, faria com que o público parasse para olhar quando vislumbrasse um «you» (que, fim ao cabo, acabaria por ser a próprio público). Assim, utilizei a cor vermelha apenas nos dois sujeitos a que se refere a passagem «Blurryface» («I») e «you».

O termo «think» é apresentado em pequena escala mas bastante próximo da palavra anterior, o que dá continuidade à linha de leitura de toda a composição.


Referências: 

[1] FONSECA, Suzana Valladares, A tradição do moderno - Uma reaproximação com valores fundamentais do Design Gráfico a partir de Jan Tschichold e Emil Ruder, 2007

[2] HEITLINGER, Paulo, Tipografia, origens, formas e uso das letras, Ed. Dinalivro, Lisboa

[4] LUPTON, Ellen; Thinking with Type; 2 Rev Exp; 2010;

7 de maio de 2016

- 32 -


Memória Descritiva

Após alguns momentos de tentativa-erro também aqui publicados e expostos [- 30 -], finalizei a minha composição tipográfica. Até ao resultado, muito foi deliberado, estudado e apre(e)ndido. Inicialmente - e como não poderia deixar de o ser -, toda a aprendizagem teve como epicentro as aulas teórico-expositivas por parte do docente que, complementadas com uma pesquisa intensiva a posteriori, me consciencializou relativamente ao que era a tipografia.

Para isso, achei de extrema importância pesquisar informação sobre a história do objeto de estudo [- 17 -] [- 18 -]. Esta pesquisa, no que lhe diz respeito, para além de definir e demonstrar as transformações ocorridas ao longos dos anos/séculos, demonstrou ser também uma ferramenta de elucidação relativamente a conceitos-base deste ramo do design. Refiro-me, por exemplo, ao conceito de serifa, à noção de tipografia e à forma como ela acelerou toda uma construção de novas fontes.

Mas afinal qual é a diferença de uma letra com serifas e uma letra sem serifas? Esta questão inquietava-me. Quais são mesmo as sensações que cada uma transmite? Cheguei à conclusão que a Internet é um mundo; um mundo de respostas diretas ou não, de respostas criativas e facilmente apreendidas. Assim, após muita pesquisa, encontrei dois vídeos que não eram nada mais nada menos do que testes psicológicos onde era colocada uma questão aos entrevistados: se a fonte x fosse uma pessoa, como seria ela; como imagina que ela seria? [- 19 -]

As respostas obtidas foram, para mim, bastante elucidativas no que diz respeito à questão que tantas vezes me fiz a mim próprio. Cheguei à conclusão de que os tipos de letras serifados eram apontados como sendo chatos, aborrecidos, profissionais e duros. Por outro lado, os tipos de letra não serifados demonstram ser mais dificilmente categorizados (tal, penso eu, relaciona-se com o facto de ser mais difícil de desenhar/construir uma fonte não serifada que vá de encontro ao expectado). Contudo, ainda assim me pareceu que este tipo de letra seja o da preferência do público em geral para a sua utilização no quotidiano.

Assim, após muita pesquisa, muita recolha fotográfica [- 21 -] [- 25 -], muita recolha de composições tipográficas [- 20 -] e muita análise de outros trabalhos em que a peça central fosse a tipografia [- 23 -], senti-me preparado para avançar para a construção da minha própria peça. E esta, teve como fundamento a livraria Lello, que celebrou um século e uma década ainda este ano. 

Tendo um objeto representativo "tão à mão" - passo a expressão -, decidi visitar a livraria mais emblemática da Invicta e registar o momento para que pudesse, de alguma forma, utilizar aquilo que vi/fotografei. 







«Desde 1906, a Livraria Lello já foi casa de homens das letras e das artes, inspiração para famosos escritores, palco de tertúlias e espetáculos e serena biblioteca para muitos leitores da cidade Invicta. Hoje, recebe diariamente milhares de ilustres visitantes de todo o mundo, que quando se deslocam à nossa cidade, não perdem a oportunidade de entrar neste magnífico edifício neogótico dos primórdios do século XX.»

Considerada uma das livrarias mais belas do mundo, nada chama mais à atenção do que o vitral embutido no seu teto. Pessoalmente, acho que será a o elemento principal de toda esta mágica livraria (não menosprezando a sua fachada, os seus livros e a sua escadaria carmim). Este, com 8 metros de comprimento e 3,5 metros de largura, tem em si inscrito a insígnia Decus In Labore [Dignidade no Trabalho], enlaçada no monograma dos irmãos Lello, lembrando a regra de ouro a todos aqueles que trespassam as portas deste edifício. 

Deste modo, decidi representar, de alguma forma, o vitral utilizando o texto escolhido [- 30 -]. Decidi não colocar muita informação destacada, apenas o essencial. Para dar a conhecer a celebração de cento e dez anos da livraria, achei que o «Lello» e «1906-2016» seriam elementos que falariam por si só e traram toda a informação necessária.

Neste momento então levantava-se uma questão: como representaria eu o vitral? Representaria-o todo ou apenas uma parte? Ponderei e cheguei à conclusão que a representação por inteiro do vitral poderia ser excessiva, tornar-se enfadonha por tantos pormenores, tantas cores e tanta informação de uma vez só. Destarte, selecionei apenas um painel integrante deste todo - um painel que tivesse cores que, para mim, são as que mais sobressaltam à vista nesta composição vítrea: o amarelo, o vermelho e o azul. Assim, tinha a meu dispor quatro dos vários painéis existentes; todos eles iguais, todos eles simétricos. Para além de nele existirem flores, círculos e ornamentos, decidi simplificar a composição utilizando apenas as cores de fundo e as linhas amarelas. O resultado, depois de tudo exercido, foi o seguinte:

Em primeiro lugar, tive bastante cuidado no tipo de letra que iria utilizar para escrever «Lello». Após alguma pesquisa de fontes de estilo Gótico, apercebi-me que nenhuma se equiparava à utilizada na fachada do edifício. Assim, tive de recorrer a uma fotografia minha onde tivesse capturado as a inscrição do nome da livraria. Após isto, e através da ajuda de ferramentas do Illustrator, consegui criar a fonte e obtive exatamente as letras tal e qual elas se encontram no topo do edifício. 

Posteriormente, e um tanto ou quanto influenciado pela escola do Bauhaus que o docente propôs que eu pesquisasse, tentei enquadrar as letras na continuidade das linhas amarelas. Assim, vislumbrei a possibilidade de um «L» - que, acabou por seultar na perfeição - e coloquei as restantes letras seguindo o traço que agora teria acabado por ser convertido em letra por mim (daí possuir uma linha preta delimitadora). É certo que tentei, inclusive, colocar o texto a direito. Contudo, quando terminei, apercebi-me que as letras estavam um pouco a flutuar sem qualquer sentido no meio da composição. 

No que diz respeito às cores de fundo, estas foram retiradas diretamente da imagem do painel através da ferramenta «eyedropper» do Illustrator. Obviamente que estas, antes de se ter iniciado a composição, foram tidas em conta. Portanto, cheguei à conclusão que resultariam, uma vez que existe um vermelho que chama a atenção do público (que transmite garra, agressividade, elegância) e um azul que remata com as outras cores e transpira serenidade, equilíbrio e alguma calma - no final de contas, acho que poderei dizer que esta é a cor que equilibra toda a composição de modo a que não seja excessivamente agressiva a nível visual. O amarelo, por seu turno, cria uma junção requintada e sensível entre duas cores tão contrastante quando se juntam. Por fim, o branco finaliza toda a composição com a sua luz e com a sua neutralidade, fazendo sobretudo com que toda a imagem não esteja excessivamente carregada a nível visual e de informação.
 Um outro elemento que mereceu destaque foram as datas «1906-2016». Estas, em estilo de letra Gótico [DKCourant], foram dispostas na linha reta que atravessa a composição pela vertical. A negro, para se destacarem no amarelo, transmitem toda a informação - que a meu ver - é necessária à apreensão de toda a informação que pretendo transmitir. Quem olhar para a data verá que, indubitavelmente, a Lello faz cento e dez anos de existência. 

Ainda assim, quando pensava que tinha dado por terminado toda a composição, eis que me surge a ideia de colocar quadrados de texto de várias saturações/intensidades por cima dos fundos em vermelho, azul, branco e na linha amarela. Tal parecia-me ser o que deveria ser posto em prática por um simples facto: os vitrais não são formados por uma só cor - está bem, até podem ser -, mas quando trespassados pela luz, estes apresentam diferentes tonalidades da mesma cor (e isso acaba por ser a magia de todos os vitrais). Recorrendo mais uma vez à ferramenta «eyedropper» do Illustrator, retirei variações das tonalidades e prossegui. Utilizei o tipo de letra mais grosso, com menos espaçamento possível (Impact) e os resultados foram de encontro ao esperado. Realmente, com todo este texto disposto em quadrados, a noção de vitral encontra-se presente indubitavelmente. 


Referências: 

[1] FONSECA, Suzana Valladares, A tradição do moderno - Uma reaproximação com valores fundamentais do Design Gráfico a partir de Jan Tschichold e Emil Ruder, 2007

[2] HEITLINGER, Paulo, Tipografia, origens, formas e uso das letras, Ed. Dinalivro, Lisboa

[3] LESSA, Joana; Tipografia, Anatomia do Tipo; Escola Superior de Educação e Comunicação; Algarve, 2012;

[4] LUPTON, Ellen; Thinking with Type; 2 Rev Exp; 2010;
 

6 de maio de 2016

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Escolha (Definitiva) do Texto Para a Realização da Composição Tipográfica

Após uma deliberação e do contacto com o docente da disciplina - o qual propôs que desse uma vista de olhos pela qualidade gráfica do período construtivista, futurista e da escola da Bauhaus -, selecionei uma notícia do jornal Público, da autoria da jornalista Inês Moreira Cabral, que dá conta da celebração dos 110 anos da Biblioteca Lello. Destarte, passo a transcrever o conteúdo noticioso:

«Livraria Lello celebra “110 anos em boas mãos”, diz João Soares

O ministro da Cultura referiu a Lello como exemplo de que “a cultura pode ser motor para o desenvolvimento”. Até às 21h, a Lello está aberta ao público e em festa na Rua das Carmelitas.


Foi com o discurso do recém-nomeado Ministro da Cultura, João Soares, que a Livraria Lello abriu na manhã desta quarta-feira as suas portas ao público para comemoração do seu 110º aniversário. Os parabéns cantaram-se ao som do quarteto da Banda Sinfónica Portuguesa e os visitantes tiveram direito a postais, doces típicos, e poesia de Guerra Junqueiro e Florbela Espanca.

A 13 de Janeiro de 1906 que a livraria Lello, classificada em 2013 como património histórico da cidade, foi inaugurada na presença de políticos e intelectuais, entre eles Afonso Costa e Guerra Junqueiro, primeiro nome no Livro'Ouro da casa, que foi também hoje assinado por João Soares.

O ministro da Cultura assinalou no seu discurso que se revê nas “tradições republicanas” da livraria, inaugurada quatro anos antes da Implantação da República, palco de tertúlias para os intelectuais da época, e que agora “cumpre 110 anos em boas mãos”. João Soares agradeceu ainda à família Lello pelo seu papel na valorização da cultura nacional. “Este é um trabalho que serve o país, que serve a nossa cultura, e que tem que ser agradecido do fundo do coração por quem agora transitoriamente tem a responsabilidade do ministério da Cultura em Portugal”.

Nas declarações à imprensa, o ministro acrescentou que a livraria “é a prova de que a cultura tem mercado e tem um espaço de afirmação no plano comercial para o país, mas sobretudo que a cultura pode ser um motor para o desenvolvimento”. Ponto de referência na rota turística do Porto, a Lello atrai diariamente centenas de visitantes, e desde Julho do ano passado começou a cobrar a entrada com vouchers de 3€, dedutíveis na aquisição de livros.

“Conseguimos resgatar a essência da livraria”, afirma José Manuel Lello, director e bisneto de José Lello, co-fundador da Lello & Irmãos. “No Verão chegávamos a ter cerca de cinco mil pessoas a entrar aqui dentro, muitas delas sem interesse nem na arquitectura, nem nos livros.” Apesar de o número de visitantes ter diminuído, José Manuel Lello adianta que a medida “permite que as pessoas estejam aqui num ambiente tranquilo, calmo, e que, com o voucher, comprem mais livros”.

Resultado disso é que as vendas da Lello aumentaram 300% nos últimos seis meses. De uma média de 190 livros por dia, a livraria passou a vender cerca de 522, e é Fernando Pessoa que se destaca no topo das vendas. O presidente do Futebol Clube do Porto, Pinto da Costa, presente na cerimónia, admitiu-se fã confesso das obras do poeta, e admira que a Lello tenha tido “a inteligência de as ter disponíveis em varias línguas, o que faz com os turistas também a adquiram”.

"É um museu vivo" diz Eliane Oliveira, de Minas Gerais, Brasil, que já conhecia a Lello. Foi um dos primeiros lugares que quis visitar quando chegou à cidade pela primeira vez, em Julho do ano passado. Agora a viver cá, Eliane regressa à Lello sempre que pode, e esta quarta-feira voltou para fazer parte da festa e deixar uma mensagem no livro de honra, aberto aos visitantes. "Escrevi parabéns, e disse que a livraria nos inspira, alimenta a nossa imaginação".  

É na promoção da cultura e da história do país que a Lello mais tem apostado. “Tornámo-nos grandes exportadores da cultura portuguesa, da gastronomia, dos azulejos, de várias temáticas”, diz José Manuel Lello. As traduções das mais importantes obras da língua portuguesa têm lugar de destaque, havendo também espaço para novos autores e criações.

“Um dos méritos que esta casa teve ao longo destes 110 anos foi conseguir adaptar-se às grandes mudanças no ramo editorial e livreiro”, diz José Manuel Lello. “Tenho a certeza de que se o meu bisavô, fundador desta casa, estivesse aqui hoje ficaria boquiaberto ao ver como se transformou. O que era uma boa livraria em 1906, é uma boa livraria em 2016, e uma atracção turística da cidade do Porto”.

Pedro Pinto, que chegou no ano passado à  administração da Lello, revela que, em 2016, a livraria irá lançar um prémio de fotografia internacional, um guia da própria livraria e uma reconstituição da fotografia de Afonso Pais do dia da inauguração, em 1906, com intelectuais da actualidade.»