9 de maio de 2016

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Memória Descritiva [Reformulação]

A minha composição tipográfica baseou-se, então, no single dos Twenty One Pilots, Stressed Out. Cheguei, inclusive, a interpretá-la num post anterior [- 28 -], de modo a entender melhor os aspetos relacionados com ela, interpretando-a, posteriormente, da melhor forma que conseguisse através do uso da tipografia. Tentei ter em máxima atenção as cores que poderia utilizar, o tipo de letra mais adequado e as possíveis fontes a que poderia recorrer. Deste modo, cheguei à seguinte conclusão: 

Sentimentos transmitidos: insegurança, timidez, nostalgia da infância, "desvontade", pressão, ansiedade, duvida, baixa auto-estima,

Cores a utilizar: cores neutras (desde branco e cinza a preto) e vermelho.

Tipos de letra/fontes: Letra serifada e/ou letra em bold/black.

A música, o videoclip e todo o álbum da banda, tem, por si só, cores que se relacionam com os sentimentos retratados na música. Falo do branco, do vermelho e do preto predominam e transmitem de forma clara todos os elementos anteriormente referidos. Relembremos também que Tyler, o vocalista da banda, encarna uma personagem que utiliza estas mesmas cores na roupa que enverga.

No que diz respeito ao tipo de letra/fontes, achei que seria adequado o uso de letra serifada por ser mais vinculativa, mais agressiva quando utilizada. A serifa, inconscientemente, provoca um maior impacto, chama-nos mais à atenção por ter um caráter mais assertivo, direto e violento. Deste modo, o uso de letras em bold/black vão muito ao encontro desta ideia também - sendo que as letras mais grossas provocam um maior impacto na mensagem que se pretende transmitir (neste caso a mensagem e o próprio sentimento que a ela se vincula).

Deste modo, reformulação após reformulação, cheguei ao resultado seguinte:


É de salientar que para a composição tipográfica apresentada, e após dialogar com o docente, retirei inspiração de Neville Brody e do seu trabalho utilizado numa campanha da Nike. Uma composição bastante equilibrada, criativa e que, sobretudo, faz bom uso da tipografia enquanto elemento da comunicação. Um aspecto que mais se destacou, no meu ponto de vista pessoal, relaciona-se com a escala utilizada para transmitir várias ideias (movimento, dinâmica e ênfase da mensagem) [FONSECA, Suzana Valladares]. Um outro aspeto relaciona-se ainda com a linha de leitura da mensagem, que na composição se mostra bastante diversificada e dinâmica. Por outras palavras, Brody leva-nos a ler a mensagem como ela deverá ser lida, sem sabermos qual palavra que virá a seguir ou por onde deveríamos continuar a ler [LUPTON, Ellen].

Esta composição foi toda pensada em dar destaque unicamente à tipografia e à forma como organizaria a mesma. Assim, utilizei um fundo preto; o qual daria maior destaque ao que poderia escrever com branco, vermelho e cinzento. É de ressaltar que neste âmbito foram exercidos vários testes - uns em que a cor de fundo [vermelho] era demasiado forte e não dava destaque ao escrito e outros em que a cor [branco] dava uma sensação de vazio, de "desimportância" da mensagem.

Nas três primeiras palavras, tentei logo dar início à relação cor-sentimento-fonte. «My name is» [O meu nome é], é uma expressão que todos nós utilizamos quase desde que aprendemos a falar. Deste modo, achei por bem não dar grande destaque a esta passagem e optei por utilizar uma fonte simples, básica, que se associasse à ideia de expressão também ela recorrente, tantas vezes utilizada por nós [HEITLINGER, Paulo]. Assim, acabei por dar uso às variantes da fonte Arial, que foi a que me pareceu mais propositada ao pretendido. 

A palavra «my», por sua vez, tem uma tonalidade mais acizentada, quase que não destacada pelo fundo preto que utilizei. E tal alia-se à ideia de que o sujeito não se sente bem consigo próprio, não tem auto-estima e encontra-se perdido no mundo. Enquadrei esta palavra na seguinte por vários motivos lógicos: a) a palavra «my» não demonstra ser relevante para se entender que o sujeito se está a referir a ele próprio; b) o 'eu', com a pouca auto-estima que tem, acha-se pequeno, menos do que os outros e possivelmente não quererá dar nas vistas e quer-se incluir na multidão de forma a que ninguém repare em si; c) no single em si, a palavra em questão quase que não é percetível a quem ouve, de modo que esta não é necessariamente utilizada para se cantar/escrever a passagem da música.

A palavra «name», por sua vez, está impregnada com um branco vivo, uma vez que é uma palavra que tem continuidade lógica para o que vai ser dito de seguida. Para além disso, esta palavra é cantada com outra entoação, uma entoação mais vincada.

Ainda assim, se tal acontece deste modo com este termo, no caso do «is», este quase que não é percetível aos ouvidos do público. Deste modo, para além de possuir uma cor mais escura e uma fonte mais fina (sem serifa), dispus a palavra em espelho para realçar esta ideia. Para além disto, a utilização da ferramenta "espelho" remete-nos também para a consciencialização de si próprio enquanto pessoa - o que acontece ao longo de toda a música. A disposição deitada, por outro lado, leva-nos a construir uma linha de leitura e direciona o próprio público para a palavra a seguir a esta.

Após isto, coloquei a palavra «Blurryface» tal e qual como nos é apresentada na cover do álbum onde este single se integra: com o tipo de letra Futura e com um design muito próprio, no qual uma linha horizontal perfaz todos os traços de algumas letras. A vermelho, claro está, uma vez que este é um dos elementos principais da passagem escolhida (e se tal não pode ser feito através do uso de letra serifada ou em bold, utilizou-se a cor para dar ênfase a este ideia). Resumidamente, tentei dar algum protagonismo a esta palavra.

«And» [e] foi o termo a que dei menos importância. Assim, apenas utilizei uma fonte mais fina (sem serifa) e branco para a destacar do fundo. Mais uma vez, de forma a criar uma linha de leitura, prostrei esta palavra por de cima da serifa inferior do «I».

De seguida, tratei de uma das palavras com maior importância em toda a composição: «I» [eu]. Esta teria de ser vinculativa, teria de ter impacto perante o público. Deste modo, utilizei uma fonte serifada e grossa; aumentei o seu tamanho e tentei dar-lhe destaque, sendo que parece que todas as palvras convergem desta palavra. A mesma técnica foi utilizada para o «you» [tu], mas lá chegaremos. 

As expressões «care what» teriam de estar intrinsecamente ligadas ao «I». Destarte, coloquei-as do lado direito dessa mesma palavra e dei-lhes alguns destaque através da cor e da sua grossura. Neste caso não achei adequado utilizar letra serifada, uma vez que a inexistência desta seria compensada pelo uso de letras carregadas. Depois, tentei encontrar um equilíbrio [FONSECA, Suzana Valladares]. A palavra «care», intrinsecamente ligada à palavra «I», deveria estar associada a esta sem qualquer questão de dúvida. Deste modo, uma parece que dá origem à outra, interligando-se literalmente. A palavra «what», por seu turno, descreve uma semicurva na sua parte superior, dando ênfase e dinamismo à mensagem transmitida, de modo a que seja captada a atenção do público e de modo a que o leitor não perca a vontade de continuar a ler. Sobretudo, a esta técnica utilizada, tentei também associar a ideia de movimento, de contraste; tentei chamar à atenção para a importância da mensagem que o sujeito quer transmitir.

Quase em termos finais, e como já foi referido anteriormente, a palavra «you» teria, de igual forma às palavras «Blurryface» e «I», de ter uma carga mais vinculativa, assertiva e teria de criar impacto no público, Assim, para além da utilização de uma fonte serifada e grossa e do seu tamanho , utilizei mais uma vez o vermelho para dar destaque à palavra. Sublinhe-se que desde o início o pretendido foi destacar a existência de um «eu» e de um «tu», o que, na minha perspetiva, faria com que o público parasse para olhar quando vislumbrasse um «you» (que, fim ao cabo, acabaria por ser a próprio público). Assim, utilizei a cor vermelha apenas nos dois sujeitos a que se refere a passagem «Blurryface» («I») e «you».

O termo «think» é apresentado em pequena escala mas bastante próximo da palavra anterior, o que dá continuidade à linha de leitura de toda a composição.


Referências: 

[1] FONSECA, Suzana Valladares, A tradição do moderno - Uma reaproximação com valores fundamentais do Design Gráfico a partir de Jan Tschichold e Emil Ruder, 2007

[2] HEITLINGER, Paulo, Tipografia, origens, formas e uso das letras, Ed. Dinalivro, Lisboa

[4] LUPTON, Ellen; Thinking with Type; 2 Rev Exp; 2010;

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