7 de maio de 2016

- 32 -


Memória Descritiva

Após alguns momentos de tentativa-erro também aqui publicados e expostos [- 30 -], finalizei a minha composição tipográfica. Até ao resultado, muito foi deliberado, estudado e apre(e)ndido. Inicialmente - e como não poderia deixar de o ser -, toda a aprendizagem teve como epicentro as aulas teórico-expositivas por parte do docente que, complementadas com uma pesquisa intensiva a posteriori, me consciencializou relativamente ao que era a tipografia.

Para isso, achei de extrema importância pesquisar informação sobre a história do objeto de estudo [- 17 -] [- 18 -]. Esta pesquisa, no que lhe diz respeito, para além de definir e demonstrar as transformações ocorridas ao longos dos anos/séculos, demonstrou ser também uma ferramenta de elucidação relativamente a conceitos-base deste ramo do design. Refiro-me, por exemplo, ao conceito de serifa, à noção de tipografia e à forma como ela acelerou toda uma construção de novas fontes.

Mas afinal qual é a diferença de uma letra com serifas e uma letra sem serifas? Esta questão inquietava-me. Quais são mesmo as sensações que cada uma transmite? Cheguei à conclusão que a Internet é um mundo; um mundo de respostas diretas ou não, de respostas criativas e facilmente apreendidas. Assim, após muita pesquisa, encontrei dois vídeos que não eram nada mais nada menos do que testes psicológicos onde era colocada uma questão aos entrevistados: se a fonte x fosse uma pessoa, como seria ela; como imagina que ela seria? [- 19 -]

As respostas obtidas foram, para mim, bastante elucidativas no que diz respeito à questão que tantas vezes me fiz a mim próprio. Cheguei à conclusão de que os tipos de letras serifados eram apontados como sendo chatos, aborrecidos, profissionais e duros. Por outro lado, os tipos de letra não serifados demonstram ser mais dificilmente categorizados (tal, penso eu, relaciona-se com o facto de ser mais difícil de desenhar/construir uma fonte não serifada que vá de encontro ao expectado). Contudo, ainda assim me pareceu que este tipo de letra seja o da preferência do público em geral para a sua utilização no quotidiano.

Assim, após muita pesquisa, muita recolha fotográfica [- 21 -] [- 25 -], muita recolha de composições tipográficas [- 20 -] e muita análise de outros trabalhos em que a peça central fosse a tipografia [- 23 -], senti-me preparado para avançar para a construção da minha própria peça. E esta, teve como fundamento a livraria Lello, que celebrou um século e uma década ainda este ano. 

Tendo um objeto representativo "tão à mão" - passo a expressão -, decidi visitar a livraria mais emblemática da Invicta e registar o momento para que pudesse, de alguma forma, utilizar aquilo que vi/fotografei. 







«Desde 1906, a Livraria Lello já foi casa de homens das letras e das artes, inspiração para famosos escritores, palco de tertúlias e espetáculos e serena biblioteca para muitos leitores da cidade Invicta. Hoje, recebe diariamente milhares de ilustres visitantes de todo o mundo, que quando se deslocam à nossa cidade, não perdem a oportunidade de entrar neste magnífico edifício neogótico dos primórdios do século XX.»

Considerada uma das livrarias mais belas do mundo, nada chama mais à atenção do que o vitral embutido no seu teto. Pessoalmente, acho que será a o elemento principal de toda esta mágica livraria (não menosprezando a sua fachada, os seus livros e a sua escadaria carmim). Este, com 8 metros de comprimento e 3,5 metros de largura, tem em si inscrito a insígnia Decus In Labore [Dignidade no Trabalho], enlaçada no monograma dos irmãos Lello, lembrando a regra de ouro a todos aqueles que trespassam as portas deste edifício. 

Deste modo, decidi representar, de alguma forma, o vitral utilizando o texto escolhido [- 30 -]. Decidi não colocar muita informação destacada, apenas o essencial. Para dar a conhecer a celebração de cento e dez anos da livraria, achei que o «Lello» e «1906-2016» seriam elementos que falariam por si só e traram toda a informação necessária.

Neste momento então levantava-se uma questão: como representaria eu o vitral? Representaria-o todo ou apenas uma parte? Ponderei e cheguei à conclusão que a representação por inteiro do vitral poderia ser excessiva, tornar-se enfadonha por tantos pormenores, tantas cores e tanta informação de uma vez só. Destarte, selecionei apenas um painel integrante deste todo - um painel que tivesse cores que, para mim, são as que mais sobressaltam à vista nesta composição vítrea: o amarelo, o vermelho e o azul. Assim, tinha a meu dispor quatro dos vários painéis existentes; todos eles iguais, todos eles simétricos. Para além de nele existirem flores, círculos e ornamentos, decidi simplificar a composição utilizando apenas as cores de fundo e as linhas amarelas. O resultado, depois de tudo exercido, foi o seguinte:

Em primeiro lugar, tive bastante cuidado no tipo de letra que iria utilizar para escrever «Lello». Após alguma pesquisa de fontes de estilo Gótico, apercebi-me que nenhuma se equiparava à utilizada na fachada do edifício. Assim, tive de recorrer a uma fotografia minha onde tivesse capturado as a inscrição do nome da livraria. Após isto, e através da ajuda de ferramentas do Illustrator, consegui criar a fonte e obtive exatamente as letras tal e qual elas se encontram no topo do edifício. 

Posteriormente, e um tanto ou quanto influenciado pela escola do Bauhaus que o docente propôs que eu pesquisasse, tentei enquadrar as letras na continuidade das linhas amarelas. Assim, vislumbrei a possibilidade de um «L» - que, acabou por seultar na perfeição - e coloquei as restantes letras seguindo o traço que agora teria acabado por ser convertido em letra por mim (daí possuir uma linha preta delimitadora). É certo que tentei, inclusive, colocar o texto a direito. Contudo, quando terminei, apercebi-me que as letras estavam um pouco a flutuar sem qualquer sentido no meio da composição. 

No que diz respeito às cores de fundo, estas foram retiradas diretamente da imagem do painel através da ferramenta «eyedropper» do Illustrator. Obviamente que estas, antes de se ter iniciado a composição, foram tidas em conta. Portanto, cheguei à conclusão que resultariam, uma vez que existe um vermelho que chama a atenção do público (que transmite garra, agressividade, elegância) e um azul que remata com as outras cores e transpira serenidade, equilíbrio e alguma calma - no final de contas, acho que poderei dizer que esta é a cor que equilibra toda a composição de modo a que não seja excessivamente agressiva a nível visual. O amarelo, por seu turno, cria uma junção requintada e sensível entre duas cores tão contrastante quando se juntam. Por fim, o branco finaliza toda a composição com a sua luz e com a sua neutralidade, fazendo sobretudo com que toda a imagem não esteja excessivamente carregada a nível visual e de informação.
 Um outro elemento que mereceu destaque foram as datas «1906-2016». Estas, em estilo de letra Gótico [DKCourant], foram dispostas na linha reta que atravessa a composição pela vertical. A negro, para se destacarem no amarelo, transmitem toda a informação - que a meu ver - é necessária à apreensão de toda a informação que pretendo transmitir. Quem olhar para a data verá que, indubitavelmente, a Lello faz cento e dez anos de existência. 

Ainda assim, quando pensava que tinha dado por terminado toda a composição, eis que me surge a ideia de colocar quadrados de texto de várias saturações/intensidades por cima dos fundos em vermelho, azul, branco e na linha amarela. Tal parecia-me ser o que deveria ser posto em prática por um simples facto: os vitrais não são formados por uma só cor - está bem, até podem ser -, mas quando trespassados pela luz, estes apresentam diferentes tonalidades da mesma cor (e isso acaba por ser a magia de todos os vitrais). Recorrendo mais uma vez à ferramenta «eyedropper» do Illustrator, retirei variações das tonalidades e prossegui. Utilizei o tipo de letra mais grosso, com menos espaçamento possível (Impact) e os resultados foram de encontro ao esperado. Realmente, com todo este texto disposto em quadrados, a noção de vitral encontra-se presente indubitavelmente. 


Referências: 

[1] FONSECA, Suzana Valladares, A tradição do moderno - Uma reaproximação com valores fundamentais do Design Gráfico a partir de Jan Tschichold e Emil Ruder, 2007

[2] HEITLINGER, Paulo, Tipografia, origens, formas e uso das letras, Ed. Dinalivro, Lisboa

[3] LESSA, Joana; Tipografia, Anatomia do Tipo; Escola Superior de Educação e Comunicação; Algarve, 2012;

[4] LUPTON, Ellen; Thinking with Type; 2 Rev Exp; 2010;
 

Sem comentários:

Enviar um comentário