20 de março de 2016

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Memória Descritiva


Música. Do latim musica, -ae, música, instrução, habilidade. Substantivo feminino. Organização de sons com intenções estéticas, artísticas ou lúdicas. Arte e técnica de combinar os sons de forma melodiosa. Composição ou obra musical. Conjunto de músicos (banda, filarmónica, orquestra). Notação ou registo de uma peça musical. Papel ou livro que contém notações musicais (partitura). Sequência de sons cuja cadência ou ritmo lembram uma melodia. [Informal, figurado] Choradeira, lamúria. [Informal] Lábia, manha.

E o que foi feito tem muito disto. Tem muito de música - que é o elemento central, a base, de tudo. Tem muito, sobretudo, da definição de música. Instrução. Organização. Arte. Técnica. Combinar. Melodia. Composição. Conjunto. Notação, registo. Sequência. Lábia, manha.

Complementaridade. A tarefa articula-se. Para a concretizar, ter-se-á de ter em conta todos os verbos, todos os substantivos definidores da 1ª arte. Eles auxiliarão na composição visual, influenciando-a, regendo-a, definindo-a. Assim, organizando-os, esta memória descritiva, ilustrativa de todo o trabalho elaborado, seguirá esses mesmos critérios que servirão como denominadores de pontos e etapas da produção criativa. 


Instrução

Primeiramente - e muito através do docente - apreendi conceitos, ideias e definições essenciais à compreensão e desenvolvimento do trabalho proposto. O ponto, a linha, a forma, a direção, a cor, a tonalidade, a textura, a escala, a dimensão e o movimento. Os elementos base da comunicação visual. «Por poucos que sejam, são a matéria-prima de toda a informação visual em termos de opções e combinações seletivas» (Donis Dondis, A Sintaxe da Linguagem Visual). [• 2 •]

Vão para a rua, procurem aquilo que aprenderam e tragam-me fotografias. E começou a descoberta. Começou o contacto com aquilo que não vislumbrávamos no mundo. Os elementos. Todos. Por todo o lado. Em todo o sítio. Nas portas das ruas, no chão, no céu, na água, no guardanapo, nas folhas... Uma panóplia deles. E assim aconteceu. Fotografei e trouxe tudo aquilo que me inspirava, tudo aquilo que poderia ou não ser útil para o meu trabalho que, nesta fase, era ainda uma miragem. 

Este processo elucidou-me bastante no que toca à forma de como tudo é pensado, de como todos estes elementos são formados/utilizados em coisas banais e que nós nem reparamos. Para além disso, alertou-me também para a forma como deveria ser o meu projeto futuro. Comecei a delimitar o que poderia e o que não poderia fazer. Precisava de criar algo não concreto, algo que só eu percebesse. Algo que, como acontece no quotidiano, enquadrasse os elementos de comunicação visual e não fosse percetível à primeira vista. [• 3 •] [• 13 •]

E os ensinamentos continuaram. Cada vez a perceber mais, a aprender mais. Todo um backup estava a ser criado para que colapsa-se, posteriormente, num brainstorming

«Na criação de mensagens visuais, o significado não se encontra apenas nos efeitos cumulativos da disposição dos elementos básicos, mas também no mecanismo percetivo universalmente compartilhado pelo organismo humano. Colocando em termos mais simples: criamos um design a partir de inúmeras cores e formas, texturas, tons e proporções relativas; relacionamos interactivamente esses elementos; temos em vista um significado. O resultado é a composição, a intenção do artista, do fotógrafo ou do designer. É seu input.» 
(Donis Dondis, A Sintaxe da Linguagem Visual)


Notação, registo

Deste modo, criou-se este blog. Esta plataforma digital que tem servido para mim como um dossier, uma compilação da minha evolução em termos de aprendizagem, de pesquisa e de aproximação ao meu objetivo. De seu nome Game of Designs - nome inspirado, em grande parte, na minha série preferida (Game of Thrones) -, demonstrou ser um instrumento essencial ao desenvolvimento cognitivo e criativo do meu projeto.

Aqui, tenho publicado tudo: registos fotográficos, pesquisas, novas formas de arte, análises a capas de álbuns e a videoclips. O esforço foi contínuo. Tentei publicar informações (pertinentes) quase todos os dias. E, todos os dias, evoluí eu também.


Melodia


Após uma pré-seleção de músicas – que variavam um pouco no seu género musical -, acabou por ser selecionado o sexto single mais recente da banda britânica Arctic Mokeys, Snap out Of It [• 4 •]. A composição deste hit (letra e sonoridade), formam uma melodia com uma regularidade paralelística que acaba por se entranhar na nossa mente sem que demos por isso. Mic Wright, do The Quietus, chega a afirmar que a música «has clicks, claps and the kind of catchy hooks that'll get you a job pumping out new songs for Icona Pop».

A letra, em específico, como não poderia deixar de ser, fala de uma relação. Ou do fim dela. Baseia-se num rapaz que tenta transmitir à sua ex-namorada a ideia de que a relação acabou e que, desta feita, ela tem de o deixar: tem de parar de insistir em algo que não vale a pena (re)tentar.


Organização

Assim, selecionei períodos da letra que se destacam e que são marcantes e utilizei-os como mote, como sendo a inspiração para o que viria a criar. Falo de períodos como «I heard that you fell in love», «What's been happening in your world», «Forever isn't for everyone/ Is forever for you?», «I wanna grab both your shoulders and shake baby/ Snap out of it» e «Under a spell you're hipnotized/ Darling how could you be so blind?».

Destarte, acabou por se criar uma síntese dos sentimentos que a música transmitia, alienado aos elementos e técnicas de comunicação visual que deveria (ou poderia) utilizar. [• 8 •] Toda esta composição associa-se à sensualidade, à persuasão, à confiança (própria), ao atrevimento, ao (des)amor e ao desprezo. Sensações e sentimentos, só por si, discordantes e ambíguos. A tarefa parecia, então, ganhar forma.


Composição

A seguir à escolha da música, passei à organização do projeto. Muito antes de todas estas etapas, talvez por entusiasmo ou por inconsciência do que era realmente o design, criei esboços com aquilo que achava que poderia vir a utilizar na minha composição. Falo de corações variados, correntes e estruturas ósseas [• 12 •].

Rapidamente me apercebi que esse não era, de todo, o caminho que queria seguir. Devido a isso, comecei a criar mais e outros esboços que seriam a base de todas as combinações e conjuntos que poderia criar.

O primeiro deles surgiu muito naturalmente. A base da ideia e da estratégia baseou-se na simplicidade e na minimização. Na representação de um coração. Cliché, sim, é verdade. Mas o retrato feito nesta música - a sua história -, não é algo que as músicas tratem periodicamente. Normalmente, fazem-no no sentido inverso: falam sobre a paixão, o amor impossível, o que é o amor; filosofam sobre uma possível relação, choram sobre outra... Mas nunca, ou muito raramente, há uma história como a que Snap Out of It nos conta. Tentei ao máximo aplicar as técnicas anteriormente referidas (a minimização e a simplicidade) e, desta feita, 'geometrizei' o símbolo convencional do coração. Este, com curvaturas e linhas retas (sendo que até podemos afirmar que é formado por um triângulo encimado por dois círculos, cada um numa aresta), tentei criar algo mais geométrico e linear, visualmente inovador. Obtive, então, um corpo grosseiro, conciso, o qual não me pareceu ser o mais indicado a utilizar. Pretendia uma forma que transmitisse exatamente o que a música nos faz sentir. Assim, utilizando o princípio da unidade/fragmentação, cheguei à forma final que utilizei para a primeira composição: quatro triângulos simétricos, racionalmente dispostos. Estes, formam um coração 'geometrizado'. 

Então, mas porquê triângulos? Os triângulos são, desde os tempos remotos, representativos da lógica, da perfeição e do raciocínio. Já Pitágoras o demonstrara com a sua fórmula que viria a revolucionar a matemática. Este símbolo tem também uma conotação fria, rigorosa, sem ambiguidades. Associa-se à ação, ao conflito e à tensão. 

Divindo a figura ao meio na vertical (embora não seja percetível à primeira vista) denota-se que existe um maior afastamento das figuras do que se as dividirmos na horizontal. Tal facto enquadra-se no afastamento do casal. Cada par de triângulos verticais - chamemos-lhe assim - representa um indivíduo da relação. Assim, a representação do afastamento relaciona-se com o término da relação e com o "espaço" que o elemento masculino quer que lhe seja dado.

Por outro lado, a intenção do uso da simetria que compõe toda esta figura vai de encontro às razões que destaquei para o uso dos triângulos. Mais uma vez, apela-se a uma estética lógica e que transmita raciocínio. A aparência, neste caso, é tudo. Por isso, também convencionei que o comprimento da figura teria de ser maior que a sua largura. O elemento, em termos de enquadramento na capa do álbum, ficaria ao centro, recuperando as noções principais já enumeradas.

Ainda é de salientar que se rodarmos a figura a 180º, obtemos algo que poderá ser interpretado como um 'A' e um 'M', o que faz alusão à banda que criou o single e ao álbum onde este está inserido - Arctic Monkeys e AM, respectivamente.

A segunda proposta basear-se-ia no preenchimento quase total da capa de CD com triângulos pequenos (no máximo, três triângulos na vertical) que teriam variados preenchimentos: desde linhas, textura, cor, etc. Os rebordos de cima e de baixo ficariam a branco - devido ao exagero de cor que poderia surgir com todos os triângulos preenchidos - e esta compreenderia uma 'curva' criada pelos triâgulos, a qual representaria a instabilidade (associada, também, à direção diagonal) da relação que, mais tarde ou mais cedo, teria de dar lugar a algo estável - ao término.

Já na fase seguinte, apercebi-me que tal proposta não passou de um impulso. Tinha observado uma criação semelhante algures e pretendia aplicá-la também no que estava para criar. Mas após parar para pensar que tal composição nada tinha a ver com a música que decidi representar - porque, afinal, isto é o que realmente interessa -, acabei por colocar esta hipótese de lado. Fiquei, então, só com duas propostas.

Por fim, a última proposta teve como base o ritmo e o beat da música. Através de retângulos/linhas, tentei compreender o compasso da melodia e criar algo visível. Os clicks e claps anteriormente referidos são de extremo paralelismo, notando-se apenas certos acordes dissonantes se prestarmos atenção. Assim, a composição criada foi algo harmonioso e bastante esquemático: blocos que, do nada, diminuem, assim como se percebe através da audição da música em questão.

O objetivo seria preencher os retângulos de cor, de textura (talvez). Em conversa com o docente - que foi quem acabou por vislumbrar a criação desta composição -, decidiu-se que seria interessante 'jogar' com cores diferentes, com tonalidades diferentes da mesma cor e, talvez, com texturas. Assim, ponto assente, passei para a prática.

É de salientar ainda que, apesar de não demonstrar interesse pelo design do próprio CD - bolacha -, ficou desde logo definido na minha cabeça que este teria o mesmo preenchimento que o coração (no primeiro esboço) e que o primeiro retângulo (no segundo). 


Conjunto

Aqui, fiz uma listagem de todas as possibilidades. Poderia utilizar material de pintura para criar algo e depois fotografar. Poderia fotografar apenas algo que achasse interessante e partir daí. Poderia criar algo com óleo, aguarelas, pastel. Tanto que poderia acontecer e fazer! Calhou que, numa aula prática, comecei por experimentar variações de uma fotografia que achara interessante. Refiro-me a uma imagem que consegui na primeira recolha fotográfica:

De brincadeira a brincadeira, de tentativa a tentativa, comecei a manipular esta mesma imagem (pelo Photoshop) através das suas curvas, obtendo resultados que nunca esperara. A fotografia, digamos, ao natural, só por si é expressiva. Demonstra força, impacto. As suas linhas associadas à textura criam desconforto, desassossego, mistério e potência associada à agressividade. A assimetria, a irregularidade, a espontaneidade, o acaso são técnicas da comunicação visual presentes nesta composição fotográfica bastante poderosa sensorialmente a todos os níveis. Comecei a gostar dos resultados e a aperceber-me que tinha nas mãos um material com grande potencial para o que pretendia. Os sentimentos estavam lá. O pretendido estava lá também. Melhor que isto poderia ser difícil de encontrar. A própria imagem fala por si - que poderia eu pedir mais? Os elementos, mesmo depois de manipulados, começavam a ganhar vida, e com eles a minha visão do que poderia e iria realizar.

Manipulação a manipulação, obtive resultados que se assemelhavam a qualquer pintura a óleo que poderia ser criada. É de salientar que neste ponto de trabalho tive bastante cuidado relativamente à pixelização da imagem e à sua subsequente deformação. Variei nas tonalidades, nas cores. Tentei encontrar variações sensuais, que se aproximassem dos pigmentos que se associam aos sentimentos retratados pela música. Sensualidade. Persuasão. Amor. Desamor. Elegância. Assim, cheguei a 18 resultados que me deixaram bastante satisfeito (sendo que cortei a fotografia em dois quadrados). Eis 9 dos resultados.


      

      

      


Azuis, verdes, brancos e roxos. Estas foram as cores e tonalidades que me prenderam, que captaram a minha atenção e que ponderei utilizar para a minha composição. Cores vibrantes. Cores leves. Cores que se associam aos sentimentos que a música transmitia (pensava eu). A minha ideia era simples: ou utilizava, no primeiro esboço, esta imagem como preenchimento dos triângulos sendo que o fundo seria uma cor neutra ou vice-versa. Assim, criei estes últimos através, também de uma outra fotografia da primeira recolha fotográfica [• 3 •, fotografia nº.29]. Mais uma vez, esta foi manipulada unicamente nos parâmetros das curvas. Escureci, clarifiquei, alterei ainda alguma saturação da imagem e consegui os resultados que pretendia. Obteve-se os seguintes resultados:


     

      


Estas imagens, ainda que com textura, não interferem visualmente com as 18 anteriores - não criam aquilo que chamamos de ruído. Isto porquê? Porque as tonalidades neutras (que, neste caso, acabam por retirar grande parte da textura presente na imagem original) anulam-se quando interagem com cores fortes e vibrantes. Isto é, ainda que o fundo seja detalhado e tenha textura, movimento e direção - como acontece neste caso -, nada disto perturba a perceção visual quando por de cima deste 'plano' se encontra um ou mais elementos de tons garridos e chamativos: a nossa atenção é, subitamente e unicamente desviada para o que é mais colorido, criando quase uma "cegueira" relativamente às tonalidades mais escuras/neutras. Acaba por ser um jogo de contraste bastante inteligente e frequentemente utilizado para a criação de cover arts. E foi esta ideia que tentei concretizar. 

Em adição, ainda editei mais duas fotografias das quais gostei bastante e que poderiam servir tanto para a composição dos triângulos como para o fundo que iria abarcar os mesmos. A primeira imagem é marcada pelos múltiplos ponto existentes (que criam um padrão simétrico, regular, equilibrado) e pelas linhas paralelas, com direção horizontal bem definida que a eles se subjazem; a segunda prima pelo uso da linha e da cor bastante forte e expressiva, desafiando a ousadia e a espontaneidade. 


   


Deste modo, a fotografia a vermelho (cor do amor, da paixão, da violência - ideia que é reforçada pela desordem das linhas, da cor e da tonalidade que compõem a imagem) poderia adequar-se na perfeição ao preenchimento dos triângulos. Por outro lado, a outra fotografia enquadrar-se-ia melhor como fundo devido à sua cor neutra e ao padrão que a forma. Nunca serviria como uma imagem a utilizar no símbolo, uma vez que se iria destacar o background e não o coração - que é o pretendido. Mas a esta conclusão, só cheguei eu mais tarde.


Combinar 

Do Photoshop passei à ação no Illustrator. Aqui, comecei a criar as capas de álbuns propriamente ditas. Utilizando as imagens que acima exibi, comecei a criar símbolos para o primeiro esboço. [Pode parecer ao leitor que só me estou a empenhar no rascunho número 1, contudo, só me refiro a este usualmente devido à atenção que ele requer: o plano número 2 não necessita tanto de preocupação na conjugação de cores e texturas, visto que as linhas verticais delimitadoras impedem qualquer tipo de ruído criado por altos contrastes.] Os corações que consegui, nomeadamente, foram 5:


      


   


Nos primeiros três utilizaram-se as diferentes tonalidades conseguidas através da primeira imagem que manipulei. Escolhi as que detinham cores mais fortes e incorporei-as no símbolo de forma a destacarem-se. Visto assim, denota-se que que nestes corações existe uma metade que está mais preenchida de cor e outra que não o está. Tal foi intencional. O preenchimento conciso pelo lado esquerdo e as linhas separadas que destroem a união da cor pelo lado direito. A mulher que ainda está confiante na relação e pensa que tudo poderá ser reatado e o homem que deseja a desunião, a desvinculação. 

Isolados, estes triângulos pareceram-me, logo à primeira vista, ser os mais promissores em termos de técnica e da comunicação visual. Dispõem de cor; de instabilidade que retrata a relação; de assimetria que simboliza os desejos díspares dos intervenientes; de ousadia que nos faz lembrar de toda a história que a música conta. Por outro lado, os últimos dois nada disto me fazem sentir. Parecem que desenquadrados, sem qualquer tipo de significado. As linhas vermelhas e amarelas que outrora me seduziram parecem não ter qualquer tipo de utilidade agora. Após tentativas de enquadramento, cheguei à conclusão que não eram estes os resultados que pretendia.




   

      


Os resultados que obtive não foram, de todo, satisfatórios. Nos primeiros casos em que no símbolo foram utilizadas linhas vermelhas e amarelas da imagem que manipulei, o resultado ficou aquém das expectativas. O contraste forte, a excessividade de linhas e de textura não resulta e torna-se ruído aos nossos olhos. Isto foi o que aconteceu nos casos em que o fundo não era neutro. Nestes, a composição pareceu resultar de melhor. Contudo, o elemento central não se destacava e, desta feita, este não era, de todo o caminho a seguir. Coloquei, portanto, esta ideia de parte.

Outra tentativa falhada relacionou-se com o que dissera anteriormente: acabei por inverter o preenchimento do background e do símbolo. Este, por seu turno, ficaria preenchido com cores neutras e o fundo seriam as cores vibrantes e fortes. Depressa me apercebi que as cores e tonalidades que variam entre o preto, cinzento e branco nunca serviriam para o elemento principal da composição. Este, quando tal fica preenchido com essas cores, acaba por ficar ofuscado pelo fundo - e isto vai no sentido oposto do pretendido. Assim, esta foi outra ideia que abandonei. 

Após uma fase de tentativa-falha, mudei de rumo e prossegui  à descoberta, enquadrando a minha ideia inicial: o coração preenchido com textura, cor e linhas sob um fundo neutro ou de outra tonalidade. Assim, obtive resultados que me deixaram satisfeitos (uns mais do que os outros, é verdade):


      


      


      


      


Nesta parte do trabalho ainda me senti muito a «apalpar terreno». Tentei todas as possibilidades. Tentei encontrar um ponto comum das más experiências e das boas experiências. Sim, porque nesta tentativa acho que consegui bom material. 

Para ser sincero, este preenchimento que utilizei para o coração é o meu preferido, é o que mais se adequa à música. Pela mistura de cores, tonalidade e pela sua própria textura (que, embora seja igual às restantes, a mim parece-me singular), transmite sensualidade, transmite amor, ódio, desilusão, compulsividade. Retrata só por si uma história de amor com bastantes particularidades, com desavenças. Os roxos, os lilases, os anis significam respeito, dignidade, sinceridade, mistério, individualidade. Tudo adjetivos e substantivos que se inter-relacionam com a história contada pelo single. As tonalidades têm, também, uma vibração, um toque de (indie) rock, que se associa ao ritmo e ao género de música em que esta se enquadra.

Tendo em conta toda as composições realizadas, poderei afirmar que obtive tanto bons resultados como maus resultados. Os que mais gostei e achei que melhor se adequariam ao pretendido, foram os quatro primeiros exemplos que aqui apresentei. O coração, vibrante e visualmente forte, sobre fundos escuros, claros, acizentados e/ou sobre um verde bastante escuro. 

Rapidamente me apercebi que metade das combinações que tinha em mente não poderiam ser exercidas devido ao choque e ao ruído visual que causariam no público-alvo. Se pretendesse utilizar a mesma imagem com tonalidades diferentes para o símbolo e background, este último teria de ser bastante mais escuro para não ofuscar o elemento principal. Destarte, comecei a aperceber-me dos meus erros; do que deveria pôr em prática para não perder tempo e para produzir algo que realmente pudesse vir a ser o projeto final. Assim, continuei a produzir conjuntos.


Técnica

Comecei, então, a ganhar olho para a composição das capas de álbuns seguindo as regras que defini: para utilizar a mesma imagem tanto para o coração como para o fundo, este teria de ter uma tonalidade mais escura de forma a que o primeiro se destacasse. Assim, comecei a produzir (em termos de quantidade) em menor escala e com mais qualidade.


     


Embora a composição esteja esteticamente e visualmente apelativa, à terceira tentiva desta composição e combinação apercebi-me que a cor do elemento principal não era a mais adequada. Esta tonalidade verde, independentemente de estar sobre qualquer fundo, faz-me lembrar da natureza, da selva, da floresta. Pondo-me do «lado de fora da bolha», se observasse uma capa de álbum assim, associaria-o a uma banda ou género de música hippie, ou a alguma campanha musical que tivesse como objetivo ressaltar a importância de  preservar e proteger a natureza. Desisti, portanto, das composições com o elemento desta cor e passei à próxima.


     

      


Mais uma vez, o resultado obtido conseguiu ser bastante equilibrado, estável e simples. O azul sobre cores neutras e, no último caso, sobre o verde escuro, funcionou bastante bem. Estas composições transmitem-me calma, mistério, infinito. Transmitem tudo aquilo que nos fazem sentir bem - pois o azul tem esse poder sobre nós, tratando-se, quase, de um calmante em forma de cor. Confesso que esta foi outra composição que me prendeu e que achei esteticamente apelativa e - perdoe-se a repetição -, equilibrada. É realmente isto que esta combinação nos transmite. Cheguei até ao ponto de ponderar utilizá-la como projeto final, devido à simplicidade e a junção de cores efetuada. Contudo, não me podia basear nos aspetos visuais. O que realmente importa aqui é a junção da música com a comunicação visual. Complementaridade. 

Nesse aspeto, esta composição não se relaciona com o single, transmitindo-nos ideias, emoções e sentimentos completamente transversais ao que é suposto. Assim, esta foi mais uma ideia para descartar mas que, em termos da comunicação visual, funcionaria se se tratasse de outra música.



Relembrando, no post onde exerci uma análise relativamente a um videoclip [• 9 •], propus-me a utilizar efeitos psicadélicos na cover art que realizaria. A posição e sobreposição da mesma imagem com tonalidades diferentes (em azul ciano e vermelho, sendo-lhes aplicadas alguma transparência), transmite a ideia de movimento, de instabilidade associada à relação que já teve dias melhores. As duas tonalidades significarão também a união que existira entre os dois indivíduos e que agora desvanece cada vez mais. Por outro lado, as cores associadas às diferentes tonalidades também se aliam: o vermelho, a cor do amor e da paixão que se desvanece até acabar por desparacer; o azul, a cor da calma - calma essa que parece estar a acabar no que toca ao elemento masculino, que se quer distanciar ex-parceira de uma vez por todas.

Posto isto, escolhi a composição que mais gostara de todo este conjunto que elaborara e apliquei os efeitos através do Photoshop. É de salientar que este efeito pareceu-me única e exclusivamente adequado para este tipo de composição e para mais nenhuma outra que desenvolvi. Os resultados foram, então, os seguintes:




O efeito ficou como pretendido. Para além das tonalidades, manipulei de forma distinta cada elemento em termos de transparência, para ter e ganhar consciência de como ficaria visualmente melhor. 



Passei então ao próximo esboço que fizera: a complementaridade entre o ritmo da música e os elementos da comunicação visual. É de relembrar que os clicks claps da melodia são de extremo paralelismo, notando-se apenas certos acordes dissonantes. Assim, a composição criada foi algo harmonioso e bastante esquemático: blocos que, de repente, diminuem, assim como acontece com a música.


      



As primeiras tentativas basearam-se na mistura de tonalidades e imagens. Nos três primeiros conjuntos, consegui uma diferença de tonalidades nas fotografias (umas mais marcadas que outras), com um acabamento de linhas verticais bastante finas e de cores distintas. A mudança de tonalidades acentua a ideia do ritmo acertado e paralelo que compõe a música e o seu ritmo. Por outro lado, os retângulos de tonalidades diferentes realçam as mudanças de ritmo que quase não se denotam - e foi devido a isto que coloquei cores contrastantes nestes elementos, para que se destacassem. A utilização e combinação destas cores e texturas formam uma composição equilibrada, subtil e regular que é agradável de visualizar.

A última composição foi criada através da alternância de duas imagens de forma a criar um padrão. Esta talvez seja, destas quatro composições, a mais equilibrada de todas devido às estratégias que utilizei e que anteriormente referi. Utilizei em predominância o contraste entre a fotografia de tons lilases e roxos e a fotografia de cor neutra, que já anteriormente me pareceu a mais adequada a utilizar já pelas razões que mencionei.



Por fim, quando pensava que já tinha dado por término o meu trabalho sucessivo de tentativas, eis que acabei por utilizar um dos esboços que me foi aconselhado não utilizar [• 12 •]. Inspirado um pouco no cubismo e utilizando linhas e formas geométricas (em especial, e mais uma vez, o lógico e frio triângulo), utilizei o Illustrator e comecei a criar e a preencher os espaços em branco. Saberia que muito dificilmente poderia utilizar o coração como elemento principal do álbum. Mas, mesmo perante esta impossibilidade, resolvi tentar. Utilizei a mesma imagem para o preenchimento de toda a figura, sendo que escolhi estrategicamente qual a parte e tonalidade da fotografia que iria utilizar em determinado espaço. Pela tonalidade não é difícil chegar à conclusão qual fora a imagem que utilizei e as razões, aqui, vão, mais uma vez, ao encontro do que tenho vindo a repetir até aqui. Cheguei, então à figura que se encontra ao lado direito. Um coração - nem preciso explicar o porquê outra vez - geometrizado. Desta vez mais literal, mais igual a si próprio. A simplicidade, irregularidade, espontaneidade e o acaso bastante definido são as técnicas que impregnei na elaboração deste miocárdio composto por várias cores, tonalidades e texturas. A partir dele, criei mais capas de álbuns, colocando-o unicamente sobre fundos de cores neutras (uma vez que com uma mistura de cores tão grandes, criaria ruído aos olhos do público e afastaria qualquer pessoa e qualquer tentativa de destaque). Apesar de eu próprio ter noção de que iria estar a criar uma figura mais literal, fiquei com esperanças que não se denotasse logo à primeira o que realmente seria o elemento. Acho que consegui. E acho que quando colocado sobre qualquer background essa ideia é ainda mais reforçada - quer pela combinação em si, quer pela força visual que o elemento tem. Penso que para entender realmente o que é aquela mistura de cores, é necessário parar, olhar e pensar. E é isso que eu pretendo e pretendi criar ao longo de todo este projeto.


      

   


Sequência

Ao todo editei 24 imagens para conseguir todas estas composições; criei dois símbolos  (um deles com cinco preenchimentos diferentes); e compus 72 cover arts - independentemente de seres boas a nível estético e/ou visual ou não. Acabei por depender unicamente do Photoshop, Illustrator, sendo que para a obtenção de material de trabalho recorri a uma máquina fotográfica Nikon.

Este projeto, como pôde ser observado, teve várias épocas de tentativa-falha, mesmo ainda quando estava inserido na miragem de uma melhor compreensão da composição que deveria (con)seguir. Ainda assim, os resultados foram variados, uns mais desastrosos que outros, outros com maior sucesso que os demais. Desta forma, com tanto material por 'pegar', uma única pessoa - ou melhor, eu - , não poderia tomar a decisão de escolher determinada composição para apresentar como projeto.


Lábia, manha

Destarte, decidi realizar testes. Delimitei uma faixa etária que normalmente ouve este género de música e que é comprador/consumidor assíduo deste tipo de material (CD's e até a própria música). Assim, parti para a investigação. Defini que deveria ter em conta unicamente a opinião de pessoas que tivessem idade compreendida entre os 15 e os 22 anos e que conhecessem a música a que me preponderei a retratar. Estes eram os únicos requisitos necessários ao direito de votação. 

Apresentei, então, dez composições que elaborara e que pré-selecionei. A amostra, composta por 30 pessoas (sensivelmente) poderia apenas votar em duas delas. Aqui deixo as opções:


      

      

   

   



Arte

Com maior número de votos, acabou por demonstrar ser a preferida do público a seguinte capa:




Posteriormente, acabei por realizar o design do próprio CD que, como já havia referido anteriormente, seria apenas o preenchimento do símbolo que estivesse enquadrado na capa escolhida. 

Nesta, assim como no próprio CD, encontram-se vários elementos da comunicação visual: é-nos percetível a linha aliada à textura, a tonalidade e à cor. Esta última acaba por ser a que mais se destaca e que mais se associa à música, devido à conotação que transmite. Sensualidade, amor, ódio, desilusão, compulsividade, respeito, dignidade, sinceridade, mistério, individualidade.

As técnicas aqui presentes também reforçam esses sentimentos e emoções. A instabilidade e irregularidade transmitida pelo formato, pela grossura e pela direção das linhas; a (quase) fragmentação do elemento que parece que se vai quebrar a qualquer momento; a ousadia das cores que vai bastante ao encontro da sensualidade que pretendia retratar. As técnicas contam uma história. Relatam visualmente a história que se encontra dentro do CD. Uma história de paixão garrida que sofre de perturbações e conflitos. Dois indivíduos que estão juntos e que, provavelmente, têm a sua relação por um fio (a quase fragmentação do elemento reforça esta ideia).

Por outro lado, temos os efeitos psicadélicos. A representação transversal ao físico. O sentimento representado. O conflito de desejos. O movimento. A movimentada desunião do elemento conciso que irá acabar por se partir por falta de consistência.


«I'll be here
Waiting ever so patiently for you to
Snap out of it»


Referências:

[1] ARHEIM, Rudolf, Arte & Perceção Visual, Ed. Pioneira (Editora da Universidade de São Paulo), São Paulo, 4ª Edição, 1988.

[2] DONDIS, Donis A., A sintaxe da linguagem visual. São Paulo: Martins Fontes, 1991, pp. 51-83

[3] MUNARI, Bruno, Design e Comunicação Visual,  Ed. 70, Lisboa, 1991


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