Elementos da Comunicação Visual
«Por poucos que sejam, são a matéria-prima de toda a informação visual em termos de opções e combinações seletivas.» (Donis Dondis, A Sintaxe da Linguagem Visual)
Sempre que algo é projetado e feito, esboçado e pintado, desenhado, rabiscado, construído ou esculpido, a substância visual da obra é composta a partir de um conjunto básico de elementos.
Aquilo que chamamos de elementos visuais tem como definição ser a «substância básica daquilo que vemos». Falo do ponto, da linha, da forma, da direção, tom, cor, textura, escala, dimensão e do movimento. Estes são a matéria-prima de toda a informação visual em termos de opções e combinações seletivas. A estrutura da obra visual é a força que determina quais os elementos visuais que estão presentes e a ênfase com que essa presença ocorre.
A percepção humana sobre o significado visual, assim como quase tudo na vida do Homem, já foi investigado diversas vezes. Contudo, as experiências de psicologia de Gestalt são as que mais ressaltam à vista, sendo que o pensamento gestaltista tem mais a oferecer além da mera relação entre fenómenos psicofisiológicos e a expressão visual. Este termo alemão é intradúzível, mas a base da sua teoria assenta na crença de que uma abordagem da compreensão e da análise de todos os sistemas exige que se reconheça que o sistema (ou objeto, acontecimento, etc) como um todo é formado por partes interativas, que podem ser isoladas e vistas como inteiramente independentes e, depois, reunidas num todo. Desta forma, é impossível modificar qualquer unidade do sistema sem que, com isso, este se modifique por completo.
Desta forma, nós, enquanto seres humanos, temos a capacidade de decompor qualquer obra visual em termos de elementos que a constituem - com vista a compreendermos melhor o todo. Este processo, inconscientemente, leva-nos a entender melhor a natureza de qualquer meio visual, de uma obra em particular e da pré-visualização e criação de uma manifestação visual, sem excluir a interpretação e a resposta a que ela se dê.
O uso destes elementos visuais básicos como meio de conhecimento e entendimento, tanto de categorias completas dos meios visuais como de obras individuais, é, etnão, um ótimo método de exploração do próprio objeto artístico e da sua expressão enquanto tal. Aqui, neste ponto, é de salientar que a escolha (e o uso) dos elementos gráficos está unicamente na mão do designer, do artista; é ele o visualizador da sua visão.
«Cada um vê aquilo que sabe.» (Bruno Monari, Design e Comunicação Visual)
Assim, torna-se um imperativo analisar detalhadamente cada elemento visual de modo a aprofundar o conhecimento das suas qualidades específicas. Que papel representam, então?
«O ponto é a unidade de comunicação visual mais simples e mínima». Qualquer ponto tem um grande poder de atração visual. Quando existe mais do que um, conseguimos medir o espaço num determinado meio. Os pontos acabam por se ligar e criar uma imagem, criando uma direção que conduz o nosso olhar, podendo criar ilusões de cor ou de tom.
![]() |
Diagram 17, Kandinsky |
«Quando os pontos estão tão próximos entre si que se torna impossível identificá-los individualmente, aumenta a sensação de direção, e a cadeia de pontos se transforma em outro elemento visual distintivo: a linha». Este elemento nunca é estático, tendo em si uma grande energia e dinâmica. Apesar de poder ser flexível, também pauta pelo facto de ter um determinado propósito e uma determinada direção. a linha, considerada um elemento inquieto, pode também ser técnica, rigorosa e racional (normalmente quando disposta "friamente" na horizontal e/ou vertical).
![]() |
Composition VIII, Kandinsky |
«A linha descreve uma forma. Na linguagem das artes visuais, a linha articula a complexidade da forma». «Forma é a configuração visível do conteúdo» (Rudolf Arnheim, A Arte & Perceção Visual). Na linguagem das artes visuais, a linha articula a complexidade da forma. O quadrado, o círculo e o triângulo constituem as formas básicas, e têm características próprias, medidas internas próprias e comportam-se de modo diverso ao ser explorada. Ainda podemos atribuir a cada uma destas formas uma quantidade de significados quer por associação, por vinculação arbitrária ou por perceções psicológicas e fisiológicas. Ao quadrado associa-se o enfado, honestidade, retidão, esmero; ao triângulo, a ação, conflito, tensão; ao círculo, a infinitude, calidez, proteção.
![]() |
Composition II in Red, Blue and Yellow. Piet Mondriaan |
«Todas as formas básicas expressam três direções visuais básicas e significativas: o quadrado, a horizontal e a vertical; o triângulo, a diagonal; o círculo, a curva». Damos, a cada direção visual, inconscientemente, um significado, uma intenção - associamos um significado: a direção horizontal e vertical, constitui a referência base do Homem e transmite bem-estar, maneabilidade, estabilidade e equilíbrio; a diagonal, pelo contrário, é a força direcional mais instável, perturbadora e, consequentemente, mais provocadora das formulações visuais; por fim, as forças direcionais curvas têm significados associados à abrangência, à repetição e à calidez.
![]() |
Marilyn Diptych, Andy Warhol |
«A luz circunda as coisas, é refletida por superfícies brilhantes, incide sobre objetos e têm, eles próprios, claridade ou obscuridade relativa». A cor é uma esponja absorvente de informação; é algo que faz parte de nós desde muito cedo, de todos nós. Desta forma, é um comunicador visual incomparável e - quase que poderíamos dizer - singular. Assim como as formas, cada cor tem em si um significado, tem em si um sentimento que transmite ao seu recetor. Desta feita, a cor oferece um vocábulo enorme e de grande utilidade para o alfabetismo visual. A cor tem três dimensões que podem ser definidas e medidas. Matiz ou croma: é a cor em si e existe num número superior a cem. Cada matiz tem características individuais; os grupos ou categorias de cores compartilham efeitos comuns. Existem, portanto, três matizes primárias ou elementares: amarelo, vermelho (ou magenta) e azul (ciano). Estas são as chamadas "cores puras", uma vez que não podem ser obtidas através da mistura de outras cores. O amarelo representa luz, calor, descontração, otimismo e felicidade. O vermelho, por sua vez, tem uma conotação energética, de excitação, de poder, de perigo, violência, desejo; é a cor do sangue e do coração. Por outro lado, o azul, uma cor fria, simboliza a tranquilidade, serenidade, harmonia, monotomia, o infinito. Quando se unem para criar novas cores, novos significados são obtidos. O vermelho, ao misturar-se com azul, suaviza-se e intensifica-se quando misturado com amarelo. O mesmo ocorre com a mistura de amarelo, que se suaviza quando misturado com o azul. A segunda dimensão da cor é a saturação, que é a pureza relativa a uma cor, do matiz ao cinza. As cores menos saturadas levam a uma neutralidade cromática e até mesmo à ausência de cor, sendo subtis e repousantes.
A Tonalidade
A Textura
A Escala
A Dimensão
O Movimento
![]() |
Starry Night, Vicent Van Gogh |
A tonalidade é um dos melhores instrumentos que dispomos para indicar e expressar a dimensão do mundo que nos rodeia. A variação de tom que se pode ou não associar à variação da luz é um dos meios pelos quais nós podemos distinguir oticamente a complexidade da informação visual do ambiente. Quando falamos de tonalidade em arte no geral, fazemos referência a algum tipo de pigmento, tinta ou nitrato de prata que se usa para simular o tom natural. As margens com que se usa a linha para representar um esboço rápido ou um minucioso projeto mecânico aparecem, na maior parte dos casos, em forma de justaposição de tons, ou seja, de intensidade da obscuridade ou claridade de qualquer coisa vista.
![]() |
Retrato esculpido em parede, Vihls |
A textura é um elemento visual que ressalta a vista, em muitos dos casos, por ser um substituo do tato. No entanto, para além deste parecer ser o único sentido em que podemos reconhecer a sua existência, não o é. A textura, é para lá do tato, sendo reconhecível também através da ótica. Onde há uma textura real, as qualidades táteis e óticas coexistem de uma forma única e específica, que permite ao tato e à visão uma sensação individual, ainda que projetemos sobre ambos um forte significado associativo. A textura relaciona-se com a composição de uma substância através de variações mínimas na superfície do material
![]() |
Boy, Ron Mueck's |
Todos os elementos visuais são capazes de se modificar e de se definirem uns aos outros. A isto chamamos escala. Ou seja, sem grande não há pequeno, e aqui é fundamental que se tenha noção da medida do Homem. A escala é um auxiliar que é bastante usado nos mapas e projetos de forma a representar a medida real. Aprender a relacionar o tamanho com o objetivo e o significado é essencial na estruturação da mensagem visual. Em termos de escala, os resultados visuais são fluidos e não absolutos, pois estão sujeitos a muitas variáveis modificadoras.
![]() |
Escola de Atenas, Rafael Sazio |
«A representação da dimensão em formatos visuais bidimensionais também depende da ilusão. A dimensão existe no mundo real. Não só podemos senti-la, mas também vê-la, com o auxílio da nossa visão estereóptica e binocular». A dimensão existe no mundo real - não há como discordar. Agora, como é que a sua representação bidimensional se processa, visto que ela não existe e está apenas implícita? A ilusão de tal é reforçada, principalmente, com a convenção da perspetiva. Os efeitos produzidos pela mesma podem ser acentuados pela manipulação tonal (através do claro-escuro e/ou de jogos de luz-sombra). Para a boa compreensão de um problema, a conceção e o planeamento de um material visual tridimensional exige sucessivas etapas, ao longo das quais se pode refletir e encontrar as soluções possíveis. Apesar da nossa experiência humana total estabelecer-se num mundo dimensional, tendemos a conceber a visualização em termos de uma criação de marcas, ignorando os problemas especiais da questão visual que nos são colocados pela dimensão.
![]() |
The Dance, Henri Matisse |
«O movimento talvez seja uma das forças visuais mais dominantes da experiência humana».No modo visual, o movimento encontra-se mais frequentemente implícito do que explícito. Ainda assim, este é um dos elementos mais dominantes na experiência humana. A impressão de movimento nas manifestações visuais estáticas é mais difícil de conseguir sem que, ao mesmo tempo, se distorça a realidade, mas está implícita em tudo aquilo que vemos e deriva inteiramente da nossa experiência de vida. O movimento como componente visual é dinâmico.
Sem comentários:
Enviar um comentário