25 de abril de 2016

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Cor 


Para mim não faz sentido falar de cor sem relembrar ou referir a Índia. Simplesmente é uma ideia que não me cabe na cabeça. Que outro país nos faz lembrar de cor, de movimento, de grandes contrastes presentes no dia a dia? Exatamente; nenhum. Nenhum a não ser a Índia. Aquele recanto onde tudo o que se vê é colorido - para não dizer extremamente colorido.

As cores inspiram, estimulam, fascinam, tranquilizam, criam sensações em nós próprios que mal conseguimos explicar. Trazem-nos emoções, lembranças, sentimentos, todo um leque de sentimentos à flor da pele. Deste modo, a cultura indiana acredita que as cores controlam aspetos físicos e espirituais da vida de nós todos, tendo também um grande peso sobre as vivências do quotidiano: a cor das roupas que vestimos, dos alimentos que compramos... a cor é, em grande parte das vezes, um grande influenciador de escolhas. Para além da sua importância a nível emocional/psicológico, as cores tem também por objetivo simbolizar e identificar (equipas, partidos políticos, sinais de trânsito, etc).

Mas afinal, o que é propriamente a cor? Cor, na sua definição mais científica, é a impressão que a luz  refletida pelos corpos (sem cor) produz no olho. A luz é o estímulo e a cor é o efeito. Se a luz não existisse não existiriam cores. 

Leonardo Da Vinci, nas suas pesquisas e formulações, foi o primeiro a afirmar que a cor era uma propriedade da luz e não dos objetos. Mais tarde, Newton, nas suas experiências, estudou a influência da luz solar na formação de cores. Este físico estudou essencialmente a decomposição da luz do sol em várias cores quando atravessa um prisma, denominando esse conjunto de tonalidade de espectro.

A cor é, assim, assimilada pelo ser humano através do sentido da visão. Dos cinco sentidos, este é o que mais rapidamente conduz a informação até ao cérebro. Aliás, psicólogos demonstraram mesmo que todas as pessoas são influenciadas pela cor a nível de humor, temperamento, imaginação e sentimentos.

Estamos, portanto, no ramo da Psicologia da Cor. Como seres humanos que somos, relacionamos a cor com determinados factos memorizados. Claro que isto varia de realidade cultural para realidade cultural, de região para região... Contudo, não é correto dizer que todos os indivíduos entendem as cores de modo diferente, estes apenas dão significados subtilmente diferentes a estas de acordo com o seu background psicológico e cultural.

Assim, na sua generalidade, podemos associar sensações às seguintes cores:

Branco: + pureza, paz, harmonia, simplicidade, limpeza \ - fragilidade, solidão;

Preto: + poder, elegância, formalidade, sofisticação, solidez \ - morte, medo, tristeza, luto, raiva;

Cinzento: + subtileza, respeito, reverência, humildade, elegância \ - passado, velhice, desânimo, indeterminação, desconsolo;

Amarelo: + concentração, curiosidade, otimismo, sabedoria, alegria, intelecto \ - arrogância, egoísmo, inveja, ódio, ciúme;

Vermelho: + amor, força, entusiasmo, vitalidade, desejo, paixão, sexualidade, energia \ - raiva, perigo, agressividade, guerra, sangue;

Laranja: equilíbrio, alegria, energia, criatividade, entusiamo, generosidade, sensitividade \ - crassidão, barulho, tendencioso;

Rosa: + carinho, sofisticação, suavidade, acolhimento;

Verde: + esperança, natureza, calma, fertilidade, purificação, equilíbrio, serenidade \ - ciúmes, ganância, inveja, náusea, veneno;

Azul: + harmonia, liberdade, paciência, purificação, serenidade \ - frieza, depressão, desapego, apatia;

Roxo/púrpura: + luxúria, idealismo, riqueza, desejo, poder \ - exagero, excesso, loucura, crueldade;

Castanho: + solidez, rusticidade, segurança, calma, estabilidade.


Após isto, ainda há que ter em conta outras definições/conceitos que poderão revelar ser uma mais valia para quando falamos de cor. Refiro-me a três qualidades que nos permitem distinguir uma car de outra:

Tom: nome genérico da cor.

Valor: variações de um tom entre o claro e o escuro. O valor altera-se quando se adiciona preto ou branco ao tom. 

Saturação/intensidade: variação do tom de acordo com a luminosidade impregnada.

24 de abril de 2016

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Explicitação do single Stressed Out, de Twenty One Pilots

Em primeiro lugar, antes de qualquer análise à música proposta, acho que devo explicitar o conceito de Blurryface, o nome do quarto álbum dos Twenty One Pilots que alberga o single Stressed Out

«The album is named after a character the band created called Blurryface. According to [Tyler] Joseph [, the vocalist], he "represents all the things that I as an individual, but also everyone around, are insecure about." Joseph wears black paint on his hands and neck during his live shows and music videos for the album, to represent Blurryface, saying: "Very dramatic, I know, but it helps me get into that character."» (www.wikipedia.org)

Deste modo, Stressed Out alterna entre o ponto de vista de Blurryface (personagem) e entre a intensa nostalgia que Tyler tem em relação à sua infância. Deste modo, torna-se num querer, num desejo de retorno à inocência da infância [um pouco à semelhança do nosso Fernando Pessoa ortónimo], onde não existiam inseguranças nem problemas de dinheiro que agora são mesmo isso - um problema.

O videoclip, onde participam os dois integrantes da banda, reforça esta ideia: Josh e Tyler, para além de se apresentarem a andar de triciclo rua fora, ainda são retratados nos seus quartos de infância - tal  sugere, então, um estado nostálgico e (talvez) um desenvolvimento anormal em termos de idade/psicológico. 

«I wish I found some better sounds no one's ever heard/ I wish I had a better voice that sang some better words/ I wish I found some chords in an order that is new/ I wish I didn't have to rhyme every time I sang»

Tyler demonstra querer liberdade para fazer o que quer, sendo que tal nem é sempre possível. Apesar das limitações, o próprio tenta ser um músico e cantor criativo - quer, desesperadamente, ser melhor pessoa. Praticamente tudo o que havia a fazer em termos de música, já foi feito: cada progressão de acordes já foi tentado e tal poderá ser notado em várias músicas que se equiparam neste ponto. Isto tudo trata-se, então, de uma teoria musical.

«I was told when I get older, all my fears would shrink/ But now I'm insecure, and I care what people think»

Os adultos ensinam às crianças que quando crescerem se tornarão mais confiantes e menos desenfreados. Contudo, à semelhança dos adolescentes, Tyler desenvolveu ansiedade, a qual o afetou tanto psicológica como fisicamente. 

«My name's Blurryface and I care what you think/ My name's Blurryface and I care what you think»
 
A personagem Blurryface é uma manifestação do "lado mau" de Tyler: todas as suas dúvidas, medos e baixa autoestima estão nela concentrados. Desta forma, o vocalista da banda preocupa-se/importa-se bastante com o que as pessoas poderão pensar sobre si (o que irá fazer com que as suas inseguranças aumentem). Denote-se que neste ponto a personagem canta num registo similar ao de Tyler, sendo que tal poderá significar que esta "tomou posse" da personalidade do vocalista e se fundiu com ele.

«Wish we could turn back time to the good old days/ When our momma sang us to sleep but now we're stressed out/ Wish we could turn back time to the good old days/ When our momma sang us to sleep but now we're stressed out/ We're stressed out»

Tyler deseja poder voltar ao tempo em que não existiam problemas ou pressas, quando a sua mãe ainda lhe cantava músicas. A infância parece-nos sempre livre de conflitos; parece ter sido o único momento em que não existiram problemas: quanto mais velhos formos, mais nos confrontamos com problemas. Um aspecto proeminente que é mencionado na música relaciona-se com a obrigatoriedade de termos de ganhar dinheiro de modo a sermos alguém na vida e de modo a alimentarmos a nossa família (o que cria a ideia de uma necessidade, de uma dependência). Contudo, na realidade, há muito mais que dinheiro.

Quanto mais difíceis forem os tempos, mais olhamos para trás e mais desejamos voltar aos tempos em que éramos novos. Tyler sabe que não é o único a sentir-se desta forma e devido a isso diz «we» ao invés de «I». A insegurança retratada nos versos contrasta com a figura da mãe que representa um abrigo, uma vez que esta trata dos seus filhos e resolve os problemas dos mesmos até que estes se possam encarregar deles próprios. Para mais, a imagem de se ter alguém a cantar para que outro alguém adormeça, transmite uma forte imagem de harmonia e de amor, o que enfatiza a ideia de uma infância ideal. 

«Sometimes a certain smell will take me back to when I was young/ How come I'm never able to identify where it's coming from?»

Nesta passagem, existe uma transposição dos sentidos: o cheiro que sente trás memórias consigo. O olfacto, aliás, é considerado o sentido mais próximo da memória e desta forma Tyler sente o cheiro de algo que lhe faz relembrar memórias que ele próprio não sabe distinguir.

«I'd make a candle out of it, if I ever found it/ Try to sell it, never sell out of it, I'd probably only sell one/ It'd be to my brother, cause we have the same nose, same clothes, home grown, the stone's throw from a creek we used to roam»

 Para esta viagem nostálgica, seria bom que Tyler conseguisse recriar a fonte do cheiro através de uma vela aromatizante. Tal poderia ajudá-lo a ser mais positivo e a encarar a vida de outra forma, assim como acontece com os demais. Estes, por sua vez, poderão achar que a  infância de Tyler não tenha sido algo de extraordinário, contudo esta continua a representar algo de marcante para o vocalista. Contrariamente a estas pessoas, o seu irmão é a única pessoa que viveu o que Tyler viveu, e desta feita ele terá também uma "vela" com o mesmo cheiro que a do seu irmão.

«But it would remind us of when nothing really mattered/ Out of student loans and tree house homes, we all would take the latter»

«Meanwhile, tree houses shelter kids from school and other worries, a refuge Tyler wishes to have back. He would take the latter of the two because a childhood refuge is definitely better than stress and money! Note that rhyme-wise, it’s “latter”, which means a list’s last object. Thanks to homophones and the flap t, it resembles “ladder”, like the ladder of a treehouse. Wordplay! Therefore, Tyler yearns for his carefree childhood (away from his adult problems) so much that it subconsciously affects his speech. Interestingly, in “Forest”, Tyler references a “burning tree house” as a metaphor for a destroyed childhood. Here, he wishes for his childhood to come back and not be destroyed.» (www.genius.com)

«Used to play pretend, give each other different names, we would build a rocket ship and then we'd fly it far away»

 Quando Tyler era uma criança, ele e os seus amigos fingiam ser outros alguéns (assim como algumas crianças fingem ser o Homem Aranha e o Super Homem). Sonhavam e desejavam ser alguém que atingisse grandes feitos, alguém que eles próprios pudessem ser quando crescessem. Imaginando o futuro, viviam iludidos e viviam noutro mundo paralelo a este. Porém, Tyler já não é uma criança.


«Used to dream of outer space, but now they're laughing at our face singing "wake up, you need to make money", yeah»

A sociedade em que vivemos espera que nós cresçamos. Ter imaginação? Isso é para as crianças. É-nos ensinado que precisamos de trabalhar: trabalhar, ganhar dinheiro, dormir, repetir - este é o lema. Caso fujamos a isto, caso tenhamos sonhos e aspirações, somos acusados de imaturidade e de infantilidade. 

A passagem «wake up, you need to make money» reflete também um dos factores que cria ansiedade em Blurryface. Este sente-se constantemente sobre pressão quando é confrontado com o "estilo de vida adulto" e quando tem de escrever músicas para poder levar para a frente esse moto. Esta passagem poderá ainda fazer referência à forma como o capitalismo afeta as pessoas no geral: quando se entra na fase adulta da vida, a produtividade e o dinheiro sobrepõem-se aos custos emocionais e à sanidade/estabilidade mental. Assistindo ao videoclip, podemos observar também que Blurryface age como uma criança quando toda a gente tenta acordá-lo de forma a lembrá-lo que ele já cresceu.

17 de abril de 2016

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Escolha de Texto(s) para a Realização da Composição Tipográfica

Após uma procura de variados temas, textos, poemas, notícias e músicas, decidi criar uma pré-seleção destes mesmos - sendo que, posteriormente a um debate de ideias com o docente, pretendo escolher um deles para a criação da composição tipográfica.

Twenty One Pilots - Stressed Out 

Decidi, em primeiro lugar, escolher a música produzida pela banda Twenty One Pilots. Esta, quer pelo seu ritmo, entoação do cantor, quer pela letra e própria complexidade/seguimento gera - pelo menos em mim - formas bastante distintas, literais, fáceis de transparecer para "papel". Esta música transmite, acima de tudo, expressividade; e este é, obviamente, um elemento que tentarei destacar e que tentarei criar, seguindo-me fiel a todo o sentimento/entendimento do single.

Destarte, deixo aqui o videoclip da própria música e a sua lyric, respectivamente:
   
 

Stressed Out
I wish I found some better sounds no one's ever heard
I wish I had a better voice that sang some better words
I wish I found some chords in an order that is new
I wish I didn't have to rhyme every time I sang

I was told when I get older all my fears would shrink
But now I'm insecure and I care what people think
My name's 'blurryface' and I care what you think

Wish we could turn back time, to the good ol' days
When our momma sang us to sleep
But now we're stressed out

We're stressed out

Sometimes a certain smell will
Take me back to when I was young
How come I'm never able to identify where it's coming from
I'd make a candle out of it if I ever found it
Try to sell it, never sell out of it, I'd probably only sell one
It'd be to my brother, 'cause we have the same nose
Same clothes homegrown, a stone's
Throw from a creek we used to roam
But it would remind us of when nothing really mattered
Out of student loans and treehouse
Homes we all would take the latter

My name's 'blurryface' and I care what you think

Wish we could turn back time, to the good ol' days
When our momma sang us to sleep
But now we're stressed out

We used to play pretend
Give each other different names
We would build a rocket ship and then we'd fly it far away
Used to dream of outer space
But now they're laughing at our face
Saying, "wake up, you need to make money"

Wish we could turn back time, to the good ol' days
When our momma sang us to sleep
But now we're stressed out

We used to play pretend, used to play pretend
We used to play pretend
Wake up you need the money
We used to play pretend, used to play pretend
We used to play pretend
Wake up you need the money

We used to play pretend
Give each other different names
We would build a rocket ship and then we'd fly it far away
Used to dream of outer space
But now they're laughing at our face
Saying, "wake up, you need to make money"


The Night's Watch oath

Uma vez que o presente blogue é intitulado Game of Designs - inspirado na série minha série preferida, Game of Thrones -, coloquei em consideração usar um texto que remarcasse para uma séries mais vistas de todo o sempre. Deste modo, acabei por selecionar o juramento/voto da Patrulha da Noite [The Night's Watch oath]. Esta é uma ordem militar que assegura e protege a muralha (uma estrutura massiva de gelo que separa a região norte dos Sete Reinos [Seven Kingdoms] com as terras para-lá-da-muralha). Até ao relatado na história, Jon Snow é o Comandante [Lord Commander] desta irmandade.

O juramento/voto é, então, um dos rituais de iniciação para a entrada de membros na Patrulha da Noite [The Night's Watch oath].


Night gathers, and now my watch begins. It shall not end until my death. I shall take no wife, hold no lands, father no children. I shall wear no crowns and win no glory. I shall live and die at my post. I am the sword in the darkness. I am the watcher on the walls. I am the shield that guards the realms of men. I pledge my life and honor to the Night's Watch, for this night and all the nights to come.

15 de abril de 2016

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José Saramago e a Caligrafia de Grandes Personalidades - Um Excelente Caso do Uso da Tipografia


A 28 de maio de 2014, foi anunciado na Casa dos Bicos (Lisboa) que a obra de José Saramago, o único português galardoado com o Prémio Nobel da Literatura, passaria a ser publicada pela Porto Editora. 

Desta nova coleção, fazem parte obras incontornáveis como A Caverna, A Noite, A Viagem do Elefante, As Intermitências da Morte, As Pequenas Memórias, Ensaio sobre a Cegueira, Ensaio sobre a Lucidez, História do Cerco de Lisboa, Manual de Pintura e Caligrafia, Memorial do Convento e O Homem Duplicado.

Contudo, se anteriormente nas publicações da Caminho tínhamos desenhos com aparência de serem conseguidos através de linóleos, nas novas publicações as capas são única e exclusivamente formadas pelo lettering e pela cor que o acompanha. Criadas pelo atelier silvadesigners, contam com o contributo especial de grandes figuras da literatura e da cultura portuguesa que caligrafaram o título para a capa de um livro. 

Desta panóplia de personalidades emblemáticas, conta-se o contributo de Álvaro Siza Vieira, Armando Baptista-Bastos, Carlos do Carmo, Chico Buarque, Eduardo Lourenço, Dulce Maria Cardoso, Gonçalo M. Tavares, Júlio Pomar, Lídia Jorge, Mário de Carvalho e Valter Hugo Mãe.

Ao todo, já foram publicados 18 títulos do escritor pela Porto Editora, sendo que 16 deles seguiram a proposta das capas caligrafadas por personalidades da cultura em língua portuguesa e dois não. Refiro-me a Alabardas, alabardas, Espingardas, espingardas, cuja capa é um desenho de Günter Grass, e A Maior Flor do Mundo, livro para o público infantil.

«Cuidado, estes livros contêm muita vida, tratemo-los com a paixão e o esmero que merecem todos os seres. Todos os seres vivos
(Pilar del Rio)



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Recolha Fotográfica #2

Ao contrário do que aconteceu na Recolha Fotográfica #1 [- 21 -], desta vez passei do exterior para o interior, isto é, privilegiei o uso da tipografia em objetos, utensílios ou embalagens que usamos no nosso quotidiano em casa e, de seguida, prossegui ao registo fotográfico.


Apesar de tentar variar um pouco na recolha tipográfica que exercia, apercebi-me que existe grande variedade dela sobretudo em livros e DVD's. Assim, apostei mais, sobretudo, nesse campo. Muitas das vezes a tipografia está associada ao serviço da divulgação de obras literárias e cinematográficas. É-nos impossível dissociar algo redigido numa determinada fonte sem que recordemos um determinado filme, livro, saga ou coleção. E aqui existe um reconhecimento, uma valorização do lettering que nos é inconsciente. Afinal, os comummente chamados "tipos de letras" tem bastante efeito em nós.



14 de abril de 2016

- 24 -


Arte Com a Máquina de Escrever? Como Assim?

Paul Smith, um homem com paralisia cerebral, é um grande artista que dispensa o uso de computador, de pincel ou de qualquer tipo de materiais comuns para construir a sua arte. O que usa então? Uma máquina de escrever. Smith criou uma técnica própria que lhe permite criar imagens (desde retratos a paisagens) utilizando simplesmente a dactilografia.

As suas limitações físicas, derivadas do seu problema, fazem com que só consiga utilizar a sua mão esquerda quando esta é segurada pela sua mão direita. Como não conseguia pressionar duas teclas ao mesmo tempo, costumava carregar na tecla 'shift' e usar os símbolos das teclas numéricas (^$#%, por exemplo) para criar as suas imagens.

Ao longo dos anos, Paul aperfeiçoou sua a técnica a tal ponto que agora consegue utilizar cores, texturas e sombras usando apenas as teclas.

Aqui, temos mais um exemplo do uso da tipografia para criar arte. Apesar de não se tratar de uma infografia tipográfica devido à sobreposição de caracteres (muitas vezes sem qualquer sentido), o conceito base continua presente: existe a formação de uma imagem, de algo concreto utilizando simplesmente o lettering - o qual tem serifa e, neste caso, é o típico de uma máquina de escrever (Aa,Bb,Cc,Dd,Ee,Ff,Gg,Hh,Ii...).



12 de abril de 2016

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Fontes Utilizadas nos Filmes de Tim Burton - Uma Análise


Tim Burton foi (e continua a ser) um dos cineastas que marcou gerações e gerações. Certamente que ouvimos os nossos pais a referi-se ao filme Eduardo Mãos de Tesoura [Edward Scissorhands], e de certeza que nós próprios - a geração a que pertenço - acabámos por assistir ao tão famoso Charlie e a Fábrica de Chocolate [Charlie and the Chocolate Factory]

Considerado por muitos como um génio do cinema moderno, Burton tem ideias bastante específicas na criação de filmes, deixando sempre o seu estilo, a sua marca nos mesmos. Habitualmente os seus filmes contam com a participação de Johnny Depp (com quem já realizou 7 filmes) e com Helena Boham Carter. 

Amante de filmes de terror, Burton planeia e realiza filmes que conciliem esta vertente com a sua habilidade para a comédia que lhe é bastante particular. Normalmente, os seus cenários variam entre os sombrios/escuros e os coloridos - sendo que, por vezes, nos é possível ter uma combinação dos dois. É-nos familiar, logo pelos cenários que já acabei de referir como pela roupa utilizada pelos atores, qualquer filme que seja realizado por este cineasta: a combinação entre os anos 50/60/70, tão coloridos pelo surgimento de novas indústrias e novas modas e, pelo contrário, tão sombrios devido ao eclodir da 2ª Guerra Mundial.

Habitualmente, os filmes incluem cenas relacionadas com o Halloween e/ou o Natal tendo características ligadas ao gótico - aqui poderá verificar-se o contraste anteriormente referido do sombrio/colorido, sendo que se trata de duas épocas festivas tão diferentes e com cores tão próprias.
Outra características dos seus filmes, relaciona-se com a própria personalidade da personagem principal: ao contrário das habitualmente apresentadas, Burton aposta na criação de heróis neuróticos, um tanto ou quanto cobardes e bizarros, mas com grande inteligência e com bons princípios morais.

Sendo que habitualmente as suas histórias possuem de algo fantasioso, não seria de admirar que cada filme realizado por si tivesse uma fonte associada. Deste modo, selecionei alguns deles (os que assisti) e parti para a descoberta, para uma análise que me poderá ajudar aquando da criação da minha composição tipográfica e da escolha da(s) minha(s) própria(s) fonte(s).

Eduardo Mãos de Tesoura [Edward Scissorhands] (1990)

O filme estrelado por Johnny Depp demonstra ter um título bastante associado ao filme. Num local de fantasia, onde Edward foi criado por um cientista, este sente-se só e sente-se menosprezado e diferente dos outros (daí o nome Edward estar em minúsculas). Por outro lado, o recorte das letras (o seu traçado), associa-se ao filme na medida em que parece que foi cortado por tesouras - que constituem as mãos da personagem principal. Isto poderá ser percecionado se atentarmos na simetria, por exemplo da letra "O": para nos ser mais fácil, é costume dobrarmos ao meio, por exemplo, uma folha de papel para cortarmos um círculo perfeito; outro fator prende-se com a dificuldade de criar curvas ao cortar-se papel - desta forma, optou-se pela predominância das letras retas. Na classificação de tipo de letras serifada/não serifada, esta fonte apresenta ter uma serifa que quase que não se repara, parecendo apenas a linha final no desenho da letra. Esta letra ainda possui letra branca que vai de encontro à ideia da neve que é referida logo numa das primeiras falas do filme («Why is it snowing and where it comes from snow? This story begins with scissors»).


A Lenda do Cavaleiro sem Cabeça [Sleepy Hollow] (1999)

O filme que conta a história de um cavaleiro degolado com vida que ataca pessoas numa pequena aldeia rural tem como título uma fonte ligada ao horror e à temporalidade medieval associada ao Halloween. Atentando no "S" e no "H" que formam o nome do filme, verificamos que eles nos fazem remontar à época medieval - tempo que parece ser vivido no filme -, transmitindo uma ideia de horror, de sangue, associado ao recorte da letra e à cor da mesma. As extremidades prolongadas dão uma sensação de rasgão, de violência, de um horror misterioso que acaba por ser o elemento principal do filme. A fonte, que acaba por ser manuscrita devido aos traços muito próprios e à mistura de estilos (veja-se o "S" arredondado que se contrapõe a quase todas as outras letras de design retilíneo), enfatiza ainda a ideia de ser uma história que se escreveu à bastante tempo e que agora irá ser contada.

Planeta dos Macacos [Planet of the Apes] (2001)

O tipo de letra utilizado utilizado para este filme é sem serifa e não tem um corpo tão refinado como as anteriores, parecendo que se encontra a bold. Tal facto, juntamente com o estilo da própria fonte, remonta-nos para o futuro ou para uma realidade que poderá chegar daqui a bastantes anos. Tal é transmitido pela interligação das letras (como no caso do "ES" e do "ET", que é onde é mais percetível), ou pelo prolongamento - que nos transmite a ideia de infinito - do "L" e do "P". Este filme, que retrata um mundo onde os macacos possuem inteligência quase humana e se organizam socialmente como os humanos, pretende relatar uma realidade futurística (não sendo um imperativo que se concretize, claro está): ideia que é transmitida pelo design do próprio título. Ainda é de salientar que a ideia de filme de ficção científica também está patente na criação do título, uma vez que o design das letras interligadas está intrinsecamente ligado a este tipo de filmes (o caso de Star Wars, por exemplo).

Charlie e a Fábrica de Chocolate [Charlie and the Chocolate Factory] (2005)

O tipo de letra divertido tanto pelas cores como pela sua formatação, dá conta de um dos filmes de Tim Burton produzido, sobretudo, para o público mais jovem. O filme relata a história de uma fábrica de chocolate - elemento só por si que remonta para a diversão, para a infância - que possui desde cascatas de cacau liquido a relva e frutos de doces. Deste modo, o design da letra não poderia deixar de ser, também ele, divertido. A letra, desenhada com serifas divertidas que se enrolam e produzem um efeito de fantasia e de sonhos, não deixa e transparecer a essência do filme, sendo que apenas pelo design do título quase que poderíamos dizer do que se trata a história. 

Sweeney Todd, o Terrível Barbeiro de Fleet Street [Sweeney Todd: The Demon Barber of Fleet Street] (2007)


O título deste filme passa a ter uma letra serifada, com um estilo clássico, urbano e citadino, que nos faz lembrar as cidade mais desenvolvidas culturalmente e socialmente no decorrer dos séculos XVIII/XIX . Contudo, é também irreverente (ao estilo de Burton), tendo em conta as assimetrias na própria letra: como por exemplo o traço do meio do "E" que não se encontra centralizado. Este musical de horror - se tal género existir -  produzido por Burton, conta a história de um barbeiro que volta a  Londres com um plano de vingança. Daí, poderemos logo interpretar a cor da fonte: o cinzento com gradação de preto na zona inferior, que nos faz lembrar o cinzento das lâminas de Todd com as quais ele pretende cometer um homicídio. 

Alice no País das Maravilhas [Alice in Wonderland] (2010)

O tipo de letra associado a um dos filmes mais vistos de Burton faz-nos realizar uma ligação entre o tipo de letra associado à marca Harry Potter - uma história que, à semelhança de Alice, prima pela fantasia, por um mundo mágico, cheio de imaginação, feitiços, utopias e muitas criaturas mágicas. O amarelo realça ainda mais esta ideia. Para mais, a formatação da letra também tem muito da essência da história, uma vez que as serifas, tanto arredondadas como rectilíneas, transmitem essa ideia de mundo fantasioso onde tudo poderá ser tal como nos nossos sonhos. Outro factor a ter em conta relaciona-se com a "brincadeira" entre letras, sendo que umas se sobrepõem às outras - como no caso do "LI" ou do "LA" - e criam a ideia de que neste filme dar-se-á liberdade aos sonhos, às ideias e à fantasia que cada um tem dentro de si. 

Sombras da Escuridão [Dark Shadows] (2010)

O género clássico, requintado utilizado na criação deste título relaciona-se com a personagem principal do filme. Barnabas é um vampiro que viveu quase desde o início da colonização inglesa no território que mais tarde viria a ser os Estados Unidos. Com um gosto clássico bastante ligado ao Renascimento e à perfeição, o título espelha exatamente os gostos e a personalidade do protagonista do filme, sendo que os "S's" serpentíneos parecem conferir ao título uma certa ponta de horror e de misticismo. A cor utilizada, por outro lado, associa-se à ideia da sombra referida no título e da prata que, para além de ser, se calhar, o metal mais clássico em termos estéticos, miticamente é o inimigo mortal de criaturas como os vampiros. Assim, existe uma aliança, mais uma vez, entre o que é pretendido representar e o título. As duas coisas entrelaçam-se e correlacionam-se e complementam-se de forma a transmitir ao público as ideias pretendidas.

Grandes Olhos [Big Eyes] (2014)

O esquema de design  desta fonte prende-se com o grande destaque da palavra "big" (grande) que, passando a redundância, é o maior elemento textual, o que mais se destaca, transmitindo a ideia que os olhos são realmente grandes. O negrito utilizado na composição do lettering também auxilia este conceito, sendo que destaca de forma massiva a mensagem que se pretende transmitir, Por outro lado, a composição do título (em forma retangular) e a cor usada remetem-nos para uma tela em branco, para um segredo que está por ser inscrito nessa mesma tela - e não é mesmo sobre isso que o filme fala? 


Links para trailers dos filmes:

11 de abril de 2016

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A Tipografia em Infografias

É habitual que a tipografia seja sobrestimada pelo designer gráfico quando, na realidade, ela poderá ser a chave que ditará o sucesso ou o fracasso do projeto que irá realizar.

Normalmente, acabamos por nos centrar noutro aspetos como a estética do desenho, a seleção de cores, a composição e distribuição dos elementos, a funcionalidade, etc. Contudo, acabamos por não dar tanta importância à seleção tipográfica ou do que esta nos transmite (será isto que pretendemos passar para o público, ou...?).

Destarte, as cinco infografias que apresento de seguida sobre tipografias permitem conhecer um pouco mais sobre a tipografia, a sua expressividade, história e escolha.


A psicologia da fonte

A escolha da fonte é crucial para que consigamos transmitir o nosso carácter. Esta permite-nos ainda transmitir a nossa marca, o nosso trabalho e obter uma resposta por parte do público. Através da fonte poderemos transmitir alguns aspetos da nossa forma de ser, da nossa personalidade, estilo e identidade. Efetivamente, podemos demonstrar ser amigáveis, divertidos, clássicos, sérios, objetivos, elegantes, criativos, expressivos.... A utilização da fonte adequada poderá ajudar-nos a configurar a nossa forma de ser ou estar no mercado, criando a nossa identidade. Na infografia que se segue, poderemos observar alguns aspectos psicológicos onde os diferentes tipos de letra se enquadram.



Personificação Tipográfica

Por vezes entendemos o mundo que nos rodeia quando o personalizamos, quando o pessoalizamos. É sabido desde os tempos que remontam ao Renascimento - sobretudo com o humanismo e o antropocentrismo -, que «o homem é a medida de todas as coisas». Assim, seguindo essa máxima, a tipografia que se segue personifica cada grupo/classificação de tipos e consegue representar bastante bem o seu carácter.



Tabela Periódica Tipográfica

Na seguinte infografia foram agrupadas e ordenadas as fontes por família e/ou classe tipográfica, categoria, símbolo, tipografia, designer e ano da criação. Foram selecionadas as 100 melhores tipografias de toda a história por designer internacionais especializados na área do design. Assim, chegou-se à Tabela Periódica da Tipografia, um paralelismo com a Tabela Periódica dos Elementos Químicos.



Precisamos do tipo porquê e para quê?

Esta talvez seja a tipografia mais original, a mais completa e a que mais nos poderá orientar no que toca à escolha tipográfica para qualquer trabalho. Um diagrama de fluxo que nos leva por diferentes perguntas, opções, idas e vindas que culminarão numa escolha de fontes e/ou tipos.


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Recolha Fotográfica #1


As fotografias que apresento de seguida são o resultado de uma recolha fotográfica que tinha como objetivo identificar e compreender as técnicas e aplicações da tipografia em composições do quotidiano. Esta recolha, para além de ter permitido a aplicação do conhecimento apreendido em aula, serviu de inspiração para o trabalho futuro referente a esta proposta.

Nesta recolha dei maior importância ao exterior, tente procurar diferentes fontes tipográficas com características distintas. Assim, verifiquei ao longo de toda esta experiência que alguns registos tipográficos têm por objetivo uma fácil e rápida leitura, uma vez que são utilizadas para fins práticos, simples, e que captem a atenção do consumidor ao ponto de este entender do que realmente se trata. Para além disto, o grande objetivo desta recolha fotográfica prende-se com o reconhecimento não só de diversos tipos de letra, mas também de aspectos que os acompanham - cores e tamanhos, respectivamente.



8 de abril de 2016

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Recolha de Inspiração na Web


Como ponto de partida e como forma de fortalecer ideias, conceitos e noções apreendidas na aula, decidi partir à aventura de procurar composições tipográficas no mundo digital. Plataformas como o Behance, Pinterest, Tumblr e o próprio motor de busca Google, revelaram ser um grandioso portefólio deste tipo de material. Desde composições dedicadas a eventos, a filmes, séries, saúde, empresas, estatística... Assim, deixo aqui alguns exemplos que fizeram suscitar o meu interesse e que me deixaram inspirado a, realmente, compor algo semelhante.


      

      

      

      

7 de abril de 2016

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If Typefaces were People - Vídeo

If fonts were people, pesquisei eu no Youtube à espera de que o mundo da internet - aquele que dizem ser o sítio onde poderemos encontrar tudo e mais alguma coisa - correspondesse às expectativas. E assim o foi. Cheguei à conclusão que a sorte poderá ter sido um factor auxiliar, visto que os dois vídeos que estava a espera de encontrar (e encontrei!) teriam sido colocados na plataforma à três meses atrás.

O conceito é bastante simples: foi pedido a estudantes de design da Universidade do Texas que descrevessem tipos de letra como sendo pessoas. Pessoas? Sim, pessoas. Assim como todos nós temos a nossa própria personalidade, os tipo de letra - implícita ou explicitamente - transmitem-nos sentimentos, ideias e tem eles próprios também uma pessoalidade, um ego. Se atentarmos bem nas nossas escolhas, quer quando elaboramos determinado trabalho para entregar na escola/universidade, quer quando escrevemos algum postal para um familiar, a fonte que utilizamos torna-se, muitas das vezes, um factor preocupante e algo que pede alguma reflexão no que toca à questão de adequa-se ou seria melhor...? 

Um tipo de letra mais retilínea, sem serifa, transmitirá seriedade, modernismo, simplicidade e acessibilidade. Uma fonte sobretudo curvilínea, de maior grossura causará mais impacto, poderá ser mais rude, grotesca, mas poderá também transmitir com maior feracidade o que pretendemos. 

Deste modo, o Comic Sans não passa de um daqueles rapazes que se senta ao fundo da sala a desenhar nas aulas; Helvetica uma mulher daquelas que vemos e pensamos já estás aqui outra vez?, sendo que por vezes sentimos a sua falta.




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A História da Tipografia - O Vídeo


The History of Typography é um video em stop motion criado por Ben Barrett-Forrest. Esta técnica de criação de vídeo consiste na fotografia quadro a quadro de modelos que são movimentados e que, posteriormente, quando tudo já está editado, cria-se a impressão de movimento. A auxiliar a imagem, poderemos ter efeitos sonoros, como uma voz off ou uma música.

Nesta pequena criação, o autor do vídeo explica, através do auxílio de representações tipográficas, a evolução da tipografia detalhadamente a partir da época de Gutenberg. Que estilos foram criados posteriormente? Quais são as diferenças? Apesar de não serem percecionadas à primeira vista, com este vídeo ficamos a perceber que, afinal, os pequenos detalhes fazem toda a diferença no que toca à escolha e à criação de um tipo/fonte.



4 de abril de 2016

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A História da Tipografia

ti.po.gra.fi.a; [tipuɡrɐˈfiɐ]; do grego týpos, «tipo» +gráphein, «escrever» +-ia; nome feminino; 1. arte de compor e imprimir; 2. oficina onde se realizam as operações essenciais à composição e impressão; 3. sistema de imprimir com formas em relevo (tipos); 4. configuração e arranjo do texto.

Texto. A palavra texto [já agora, texto  é um conjunto ordenado de palavras ou frases escritas de um autor ou de uma obra, por oposição a comentários, aditamentos, traduções, etc., feitos sobre ele] remete-nos para a transmissão de ideias, de conceitos, de palavras. Remete-nos para a comunicação, para a troca de informação entre indivíduos através da fala, da escrita, de um código comum ou do próprio comportamento. Neste caso aplicado ao objeto de estudo, interessa-nos unicamente a troca de informação através da escrita e/ou de um código que, na realidade, é a forma de comunicação mais importante para a maioria dos seres humanos -  a tipografia.

O elemento que está presente em todo o lado. No chocolate que comemos, no jornal que lemos, na calçada que pisamos, nos placards que chamam a nossa atenção na rua, nos pacotes de açúcar que tão desprezadamente abrimos para misturar com o café... A tipografia faz parte do nosso quotidiano. Inconscientemente, ela comunica connosco, fazendo-nos sentir e reagir de determinada forma, transmitindo-nos mensagens, avisos, ideias, promovendo algo ou, simplesmente, fazendo alusão a qualquer estabelecimento ou serviço que poderá estar disponível.

O termo em si surgiu como referência à arte de compor e imprimir com caracteres móveis. Contudo a sua abrangência aumentou. Novos estudos e técnicas vieram a modificar o conceito. Deste modo, hoje, o conceito refere-se ao estilo, ao formato, ao tamanho, ao arranjo visual e ao conjunto de caracteres que constituem uma composição de textos utilizados num projeto gráfico.

Mas, sendo assim, como evoluíram os caracteres ao ponto de termos ao nosso dispor a diversidade que temos hoje em dia?

A pré-história foi o ponto de partida. O homem, que por definição é um ser social, acabou por ter de conseguir encontrar uma forma de comunicar com outros seres iguais a si de modo a formar grupos que lhe possibilitariam maior força, segurança e conforto. Deste modo, de forma a transmitir pensamentos, sentimentos e conhecimento, começou a comunicar através de gestos auxiliados, posteriormente, por uma linguagem aperfeiçoada. 

Quando os primeiros homens se começaram a fixar em determinados locais - ou seja, quando
deixaram de ser nómadas e dependentes do que a natureza lhes proporcionava -, estes começaram a criar os seus próprios produtos agrícolas em paralelo com a criação de gado. Assim, algures na parte sul da antiga região da Mesopotâmia, por volta do ano 3200 a.C, mais precisamente na Suméria, foi criado o primeiro primeiro sistema de escrita - o cuneiforme [em forma de cunha]. Esta prática era exercida sobretudo em placas de argila através de pictogramas elaboradas com um instrumento pontiagudo que tornava as formas um tanto ou quanto abstratas. 

Não muito tempo depois, por volta do ano 3000 a.C, nasceu, no Egipto, um outro sistema de escrita através de hieróglifos. Estes, eram desenhados em pedras e possuíam um nível de detalhe bastante elevado - quer na representação de animais, deuses, pessoas e/ou objetos - daí, era necessário bastante tempo para a sua realização. Para este povo, a escrita detinha um valor mágico, transcendente ao seu mundo. Era um privilégio que se refletia na hierarquia do povo egípcio, sendo que nem todos saberiam escrever e os que sabiam - denominados escribas - posicionar-se-iam na terceira parte (de seis) da pirâmide que regia a comunidade deste povo ancião. Ficariam apenas por de baixo do faraó e dos sacerdotes, mas sobrepunham-se a outra força extrema do império: os militares. 

Por volta de 1500 a.C., os egípcios desenvolveram o papiro, uma espécie de papel primitivo conseguido através do entrelaçamento da fibra de uma planta com esse mesmo nome, que abundava nas margens do rio Nilo. Esta inovação excecional para a época revolucionou o mundo da comunicação, uma vez que criou uma grande facilidade no transporte de uma mensagem. O utensílio que se usava para desenhar a mensagem passou a ser um  pincel conseguido através de um pau de junco que, auxiliado com tinta, perpetuaria a mensagem no papel.

300 anos depois, em 1200 a.C., na Fenícia, conhecida pelos seus navegadores e comerciantes, criou-se o alfabeto fonético com 22 caracteres baseados em ideias antigas. Os fenícios, muito devido a serem um povo sobretudo de comerciantes, necessitaram de criar um meio rápido e eficaz de comunicar, inclusive com outros povos que falariam outros idiomas. Assim, com este alfabeto fonético, era possível criar transcrições de outras linhas orais. Uma vez que o número de caracteres era muito reduzido, a alfabetização tornou-se algo muito mais acessível e prático. Este tipo de comunicação criada pelos fenícios era tão eficiente que em pouco tempo se alastrou a muitos dos povos que envolviam o mar Mediterrâneo.

Entre estes povos, encontravam-se os gregos que em 800 a.C. adotaram este alfabeto modificando-o consoante as suas necessidades. Adaptaram as primeiras vogais e acrescentaram três novas consoantes. Cerca de 200 anos depois, em 500 a.C, alcançaram o apogeu e a plenitude dos seus estudos e do seu ser enquanto civilização. A cultura grega que, histórica e cientificamente é apelidado por cultura helénica, teve como grande difusor Alexandre o Grande, que entre 356a.C. e 323a.C., apesar de não ser grego, difundiu esta cultura e o alfabeto desde o Egito, à Mesopotâmia e à Índia. 

Contudo, é no império romano que encontramos as versões mais antigas do alfabeto moderno. Assim como os gregos utilizaram e modificaram o alfabeto fenício, os romanos fizeram o mesmo com o alfabeto grego. Como política de conquistar os territórios vizinhos (pois os romanos queriam formar aquilo que apelidavam Mare Nostrum), este povo ampliou a sua influência por toda a Europa continental, Reino Unido, Golfo Persa e Norte de África. Conquistando um território novo, os romanos construíam arcos do triunfo com inscrições comemorativas em latim (língua oficial de todo o império e que deveria ser apreendida por todos os povos submissos), reafirmando a soberania e aproximando todos os povos . 

As inscrições romanas exercidas em pedra, possuíam uma característica completamente inovadora: a serifa - pequenas extensões nas extremidades dos traços de uma letra. Muitas são as histórias das suas origens, alguns acreditam tratar-se de uma fenda/fragmento/prolongação de uma guia feita com pincel e tinta que criava traços finos e grossos. Estas, posteriormente acabavam por ser seguidas à risca pelos pedreiros que gravavam as palavras em pedra e criava-se a serifa. Outros, afirmam tratar-se uma tática de acabamento específica da técnica de cinzelar o mármore. A verdade, é que este foi a primeira forma de escrita onde a serifa foi utilizada como membro estruturantes de uma letra.

Com a queda do império romano, já em 476 d.C, a instituição que prevaleceu e unificou os povos foi a Igreja Católica Romana. Durante a Idade Média, esta instituição mantinha mosteiros e igrejas espalhados por quase toda a zona da Europa onde habitavam os chamados monges copistas. Estes homens, para além de pertencerem à fé, eram especialistas que se dedicavam à cópia da Bíblia e de textos antigos que se encontravam em pergaminhos e rolos de papiro que se degradavam facilmente com o avançar dos anos. Estes manuscritos (que eram posteriormente anexados nos chamados livros jóia), demonstravam os diferentes estilos regionais de letra manuscrita da era medieval, uma vez que a sociedade se organizava em feudos isolados uns dos outros. 

Por volta do ano de 1400 d.C., na cidade que conhecemos hoje em dia como Maiz (Alemanha), nasceu Johann (Gensfleich) Gutenberg - um ferreiro e artesão multifacetado que desde 1438 trabalhava num projeto mais fácil para a criação de livros. Este alemão criou uma técnica revolucionária que se baseava na criação de caracteres móveis (que variavam apenas na largura) que, posteriormente, eram organizados de modo a criar o texto ou colunas no chamado caixilho de paginação ou rama - uma moldura retangular de ferro onde era aplicada tinta especialmente desenvolvida. De seguida, esta prensada contra o papel (utilizando uma versão da prensa de esmagar uvas para a produção de vinho) criaria a impressão. Uma página, após montada, poderia produzir centenas de folhas iguais que depois seriam encadernadas. 

Assim, Gutenberg tornou a impressão um processo de produção viável. Nasceu, portanto, a segunda maior invenção do segundo milénio: a imprensa. As letras escolhidas por Gutenberg tinham por objetivo imitar o máximo que pudessem o aspeto manuscrito criado por um escriba. Este tipo de letra ficou conhecido como black letter ou letras negras, que é considerada a primeira fonte. Este termo vem do latim fundére, que significa fundir. Na tipografia, chama-se  fonte a um conjunto completo de todos os caracteres, incluindo maiúsculas, minúsculas, números e sinais.

O método de impressão conseguido através da caracteres móveis criou tanto sucesso que dali a 50 anos existiam mais de mil impressores por toda a Europa, produzindo livros com tiragens de 200 a mil exemplares. A 1487, era impresso o primeiro livro em Portugal (em Faro).

Novos modelos de fontes foram produzidos, sendo que geralmente eram baseados em letras manuscritas antigas. Esta criação poderá ser classificada como estilo antigo, ou old style, que começou com os tipos venezianos (1470), unindo as capitulares romanas, minúsculas carolíngias e numerais indo-arábicos. Posteriormente, evoluiu-se para o tipo franco-aldino (1540) e atingiram o seu apogeu com o tipo anglo-holandês (1725).


Após este período surgiram os tipos transicionais (1757) que introduzem o estilo moderno (1781) - com as suas serifas finas e retas, com alto contraste entre os traços das hastes e comum enfoque racionalista que desprezou o tipo de letra que pretendia seguir os traços manuscritos. Estávamos, então, no século das luzes, das grandes Revoluções.


A revolução industrial que se dá no século XIX e que tem como consequência o aumento da produção industrial, ressaltou a necessidade de fontes com fim comercial (divulgação e venda). Assim, são criados diversos estilos que passam pelos decorativos (muitas das vezes sem pretensão de refinamento ou elegância) , os egípcios (ou de serifa quadrada), e os cursivos (que retornam a inspiração em tipos manuscritos).

No começo do século XX, os tipógrafos revoltaram-se quando se aperceberam do excesso de estilos existente. Deste modo, apresentam um novo conceito de tipos da era da máquina: o estilo sem serifa. Que propunha representar o tipo ideal, a solução racional e estética para qualquer questão tipográfica. O aparecimento do computador digital, a partir da década de 80, facilitou a criação e o uso de tipos. Aumentou o número de fontes exponencialmente, assim como a quantidade de estilos, o que tornou a classificação de todos os tipos digitais praticamente inviável.


Contudo, a era digital democratizou o uso da escrita de uma forma sem precedentes. Os tipos evoluíram e continuarão a evoluir, mas onde acabará isto? Assim, cabe a nós, a nossa geração prever e concretizar esse futuro.


Referências:

[1] FONSECA, Suzana Valladares, A tradição do moderno - Uma reaproximação com valores fundamentais do Design Gráfico a partir de Jan Tschichold e Emil Ruder, 2007


[2] HEITLINGER, Paulo, Tipografia, origens, formas e uso das letras, Ed. Dinalivro, Lisboa