12 de abril de 2016

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Fontes Utilizadas nos Filmes de Tim Burton - Uma Análise


Tim Burton foi (e continua a ser) um dos cineastas que marcou gerações e gerações. Certamente que ouvimos os nossos pais a referi-se ao filme Eduardo Mãos de Tesoura [Edward Scissorhands], e de certeza que nós próprios - a geração a que pertenço - acabámos por assistir ao tão famoso Charlie e a Fábrica de Chocolate [Charlie and the Chocolate Factory]

Considerado por muitos como um génio do cinema moderno, Burton tem ideias bastante específicas na criação de filmes, deixando sempre o seu estilo, a sua marca nos mesmos. Habitualmente os seus filmes contam com a participação de Johnny Depp (com quem já realizou 7 filmes) e com Helena Boham Carter. 

Amante de filmes de terror, Burton planeia e realiza filmes que conciliem esta vertente com a sua habilidade para a comédia que lhe é bastante particular. Normalmente, os seus cenários variam entre os sombrios/escuros e os coloridos - sendo que, por vezes, nos é possível ter uma combinação dos dois. É-nos familiar, logo pelos cenários que já acabei de referir como pela roupa utilizada pelos atores, qualquer filme que seja realizado por este cineasta: a combinação entre os anos 50/60/70, tão coloridos pelo surgimento de novas indústrias e novas modas e, pelo contrário, tão sombrios devido ao eclodir da 2ª Guerra Mundial.

Habitualmente, os filmes incluem cenas relacionadas com o Halloween e/ou o Natal tendo características ligadas ao gótico - aqui poderá verificar-se o contraste anteriormente referido do sombrio/colorido, sendo que se trata de duas épocas festivas tão diferentes e com cores tão próprias.
Outra características dos seus filmes, relaciona-se com a própria personalidade da personagem principal: ao contrário das habitualmente apresentadas, Burton aposta na criação de heróis neuróticos, um tanto ou quanto cobardes e bizarros, mas com grande inteligência e com bons princípios morais.

Sendo que habitualmente as suas histórias possuem de algo fantasioso, não seria de admirar que cada filme realizado por si tivesse uma fonte associada. Deste modo, selecionei alguns deles (os que assisti) e parti para a descoberta, para uma análise que me poderá ajudar aquando da criação da minha composição tipográfica e da escolha da(s) minha(s) própria(s) fonte(s).

Eduardo Mãos de Tesoura [Edward Scissorhands] (1990)

O filme estrelado por Johnny Depp demonstra ter um título bastante associado ao filme. Num local de fantasia, onde Edward foi criado por um cientista, este sente-se só e sente-se menosprezado e diferente dos outros (daí o nome Edward estar em minúsculas). Por outro lado, o recorte das letras (o seu traçado), associa-se ao filme na medida em que parece que foi cortado por tesouras - que constituem as mãos da personagem principal. Isto poderá ser percecionado se atentarmos na simetria, por exemplo da letra "O": para nos ser mais fácil, é costume dobrarmos ao meio, por exemplo, uma folha de papel para cortarmos um círculo perfeito; outro fator prende-se com a dificuldade de criar curvas ao cortar-se papel - desta forma, optou-se pela predominância das letras retas. Na classificação de tipo de letras serifada/não serifada, esta fonte apresenta ter uma serifa que quase que não se repara, parecendo apenas a linha final no desenho da letra. Esta letra ainda possui letra branca que vai de encontro à ideia da neve que é referida logo numa das primeiras falas do filme («Why is it snowing and where it comes from snow? This story begins with scissors»).


A Lenda do Cavaleiro sem Cabeça [Sleepy Hollow] (1999)

O filme que conta a história de um cavaleiro degolado com vida que ataca pessoas numa pequena aldeia rural tem como título uma fonte ligada ao horror e à temporalidade medieval associada ao Halloween. Atentando no "S" e no "H" que formam o nome do filme, verificamos que eles nos fazem remontar à época medieval - tempo que parece ser vivido no filme -, transmitindo uma ideia de horror, de sangue, associado ao recorte da letra e à cor da mesma. As extremidades prolongadas dão uma sensação de rasgão, de violência, de um horror misterioso que acaba por ser o elemento principal do filme. A fonte, que acaba por ser manuscrita devido aos traços muito próprios e à mistura de estilos (veja-se o "S" arredondado que se contrapõe a quase todas as outras letras de design retilíneo), enfatiza ainda a ideia de ser uma história que se escreveu à bastante tempo e que agora irá ser contada.

Planeta dos Macacos [Planet of the Apes] (2001)

O tipo de letra utilizado utilizado para este filme é sem serifa e não tem um corpo tão refinado como as anteriores, parecendo que se encontra a bold. Tal facto, juntamente com o estilo da própria fonte, remonta-nos para o futuro ou para uma realidade que poderá chegar daqui a bastantes anos. Tal é transmitido pela interligação das letras (como no caso do "ES" e do "ET", que é onde é mais percetível), ou pelo prolongamento - que nos transmite a ideia de infinito - do "L" e do "P". Este filme, que retrata um mundo onde os macacos possuem inteligência quase humana e se organizam socialmente como os humanos, pretende relatar uma realidade futurística (não sendo um imperativo que se concretize, claro está): ideia que é transmitida pelo design do próprio título. Ainda é de salientar que a ideia de filme de ficção científica também está patente na criação do título, uma vez que o design das letras interligadas está intrinsecamente ligado a este tipo de filmes (o caso de Star Wars, por exemplo).

Charlie e a Fábrica de Chocolate [Charlie and the Chocolate Factory] (2005)

O tipo de letra divertido tanto pelas cores como pela sua formatação, dá conta de um dos filmes de Tim Burton produzido, sobretudo, para o público mais jovem. O filme relata a história de uma fábrica de chocolate - elemento só por si que remonta para a diversão, para a infância - que possui desde cascatas de cacau liquido a relva e frutos de doces. Deste modo, o design da letra não poderia deixar de ser, também ele, divertido. A letra, desenhada com serifas divertidas que se enrolam e produzem um efeito de fantasia e de sonhos, não deixa e transparecer a essência do filme, sendo que apenas pelo design do título quase que poderíamos dizer do que se trata a história. 

Sweeney Todd, o Terrível Barbeiro de Fleet Street [Sweeney Todd: The Demon Barber of Fleet Street] (2007)


O título deste filme passa a ter uma letra serifada, com um estilo clássico, urbano e citadino, que nos faz lembrar as cidade mais desenvolvidas culturalmente e socialmente no decorrer dos séculos XVIII/XIX . Contudo, é também irreverente (ao estilo de Burton), tendo em conta as assimetrias na própria letra: como por exemplo o traço do meio do "E" que não se encontra centralizado. Este musical de horror - se tal género existir -  produzido por Burton, conta a história de um barbeiro que volta a  Londres com um plano de vingança. Daí, poderemos logo interpretar a cor da fonte: o cinzento com gradação de preto na zona inferior, que nos faz lembrar o cinzento das lâminas de Todd com as quais ele pretende cometer um homicídio. 

Alice no País das Maravilhas [Alice in Wonderland] (2010)

O tipo de letra associado a um dos filmes mais vistos de Burton faz-nos realizar uma ligação entre o tipo de letra associado à marca Harry Potter - uma história que, à semelhança de Alice, prima pela fantasia, por um mundo mágico, cheio de imaginação, feitiços, utopias e muitas criaturas mágicas. O amarelo realça ainda mais esta ideia. Para mais, a formatação da letra também tem muito da essência da história, uma vez que as serifas, tanto arredondadas como rectilíneas, transmitem essa ideia de mundo fantasioso onde tudo poderá ser tal como nos nossos sonhos. Outro factor a ter em conta relaciona-se com a "brincadeira" entre letras, sendo que umas se sobrepõem às outras - como no caso do "LI" ou do "LA" - e criam a ideia de que neste filme dar-se-á liberdade aos sonhos, às ideias e à fantasia que cada um tem dentro de si. 

Sombras da Escuridão [Dark Shadows] (2010)

O género clássico, requintado utilizado na criação deste título relaciona-se com a personagem principal do filme. Barnabas é um vampiro que viveu quase desde o início da colonização inglesa no território que mais tarde viria a ser os Estados Unidos. Com um gosto clássico bastante ligado ao Renascimento e à perfeição, o título espelha exatamente os gostos e a personalidade do protagonista do filme, sendo que os "S's" serpentíneos parecem conferir ao título uma certa ponta de horror e de misticismo. A cor utilizada, por outro lado, associa-se à ideia da sombra referida no título e da prata que, para além de ser, se calhar, o metal mais clássico em termos estéticos, miticamente é o inimigo mortal de criaturas como os vampiros. Assim, existe uma aliança, mais uma vez, entre o que é pretendido representar e o título. As duas coisas entrelaçam-se e correlacionam-se e complementam-se de forma a transmitir ao público as ideias pretendidas.

Grandes Olhos [Big Eyes] (2014)

O esquema de design  desta fonte prende-se com o grande destaque da palavra "big" (grande) que, passando a redundância, é o maior elemento textual, o que mais se destaca, transmitindo a ideia que os olhos são realmente grandes. O negrito utilizado na composição do lettering também auxilia este conceito, sendo que destaca de forma massiva a mensagem que se pretende transmitir, Por outro lado, a composição do título (em forma retangular) e a cor usada remetem-nos para uma tela em branco, para um segredo que está por ser inscrito nessa mesma tela - e não é mesmo sobre isso que o filme fala? 


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